4 de novembro de 2015

OS FINADOS

OS FINADOS
Antes, antigamente, em outros tempos que nem sei quais são a pessoa morria só uma vez. Hoje, se a morte é violenta, ela não morre uma, mas repetidas vezes. Morre incansavelmente na tela da tv, na famigerada reconstituição do crime, enquanto o inquérito demora (outros casos virão e esqueceremos o mais atual) e ainda quando os delegados, (o Secretário sumiu) por meio de uma linguagem rebuscada e escandalosamente parcial, informa com a maior desfaçatez que um menino de 10 anos foi morto pela polícia a menos de cinco metros de distância e que isso foi um "erro de execução", isto é, o policial pensou em fazer uma coisa e fez outra. Estou falando do delegado Rivaldo Barbosa, que se especializou em desculpar todas as ações policiais extremas sem nenhuma compaixão. Sem nem pedir desculpas, o que aliás é um comportamento desconhecido do braço armado do Estado.
O policial foi encaminhado para tratamento psicológico.
A família fica sem o filho e vemos crescer a lista daqueles que, por serem pobres, estão na linha de frente da chamada "guerra às drogas", que já nasceu perdida. Os governos, no entanto, teimam em agir em seu nome, e isso significa milhares de jovens (incluindo aí as crianças) morrendo diariamente por conta de nada.
As drogas, sabemos, são apenas pretextos para outros interesses. Há pobres demais no Rio.
Não esqueçamos, no entanto, que a polícia segue ordens. Extrapola, quase sempre, por conta da má formação profissional. E quando isso acontece o Estado a protege.
Democracia, igualdade, inclusão - histórias que inventam para nos acalmar.
Não está dando certo. Todos nós sabemos que o Estado é o nosso algoz, e direta ou indiretamente morreremos por suas ordens.

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4 comentários:

  1. Estava lendo ontem a reportagem sobre o caso e me impressionou o número de pessoas que apoiaram a ação da polícia, afirmando que a morte foi "sem querer". A violência policial é um reflexo da violência da sociedade.

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  2. Banalidade do mal, banalidade do sofrimento (alheio), banalidade da dor...Uma pulsão de morte assola esta cidade de maneira agônica, embora uma agonia que não se encaminha para o fim, mas ocupa-se da manutenção de si própria. É, já!, o nosso cotidiano, a nossa maneira muito específica e macabra de "viver". Algo totalmente irrespirável. E ainda reclamam da fumaça do meu cigarro!
    Daniel Santos

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