20 de maio de 2014

UM POUCO DE LITERATURA

Konstantinos Kaváfis
Há poucos dias li no jornal queixas do editor executivo da editora Record dizendo-se perplexo em relação aos autores convidados para a FLIP, relativamente à presença limitada de literatura brasileira.
Ora, ora. A primeira edição da FLIP foi em 2003 e desde então já mostrou a que vinha.  Nos anos seguintes (ou no mesmo, não sei) organizou-se a off Flip (tudo pelo idioma nacional) para quem não tinha conseguido derrubar as barreiras e chegar ao evento oficial, com alguma abertura para escritores que não tivessem mídia.  Algumas editoras abriam suas bancas à noite e com declamações e shows, de alguma forma vendiam. Mas logo a Livraria Cultura junto com a organização da FLIP criou mecanismos para impedir essas participações independentes e garantir o monopólio 
Em 2009, quando inaugurei este blog, o tema foi justamente a FLIP e suas boas intenções. Os autores, com os livros na mão, eram perseguidos pelos guardas (?) da Feira, que lhes tomavam até os livros e, para não perder o hábito, também corriam com os artesãos de sempre. Houve manifestações. Chico Buarque reclamou.

Portanto, onde esteve até hoje o senhor editor da Record, que só agora viu isso e resolveu fazer a sua manifestação?  

PS. Mesmo a off FLIP cobrou dos candidatos ao concurso de poesia deste ano a módica quantia de 90 reais, de onde se conclui que só é off porque não pode ser on.

Mas a idéia não é falar na FLIP, e sim de literatura, conforme a chamada.
Vai aqui, portanto, essa obra-prima em que nos reconhecemos na história de todos os tempos.


À ESPERA DOS BÁRBAROS

O que esperamos na ágora reunidos?

      É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      Que leis hão de fazer os senadores?
      Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

      É que os bárbaros chegam hoje.
      O nosso imperador conta saudar
      o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
      um pergaminho no qual estão escritos
      muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

      É que os bárbaros chegam hoje,
      tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

      É que os bárbaros chegam hoje
      e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

      Porque é já noite, os bárbaros não vêm
      e gente recém-chegada das fronteiras
      diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.


* este blog não segue as regras do acordo ortográfico.

...

2 comentários:

  1. Viva as invasões bárbaras! o país já está uma barbaridade, devemos estar preparados ao que virá.

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  2. Eles já estão chegando e nós estamos recebendo-os até com "ajuda humanitária"...

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