18 de outubro de 2012

O ESTADO PELO CRIME 2


A televisão bate no assunto dos viciados em crack ao mesmo tempo em que anuncia apreensões de maconha. 
Pois se o problema é o crack, por que não apreendem o crack? Onde está ele, que ninguém vê, nem  mesmo a polícia que é tão chegada a operações de "inteligência"? Ao que tudo indica, o crack tem venda liberada. A maconha é que não. Não é mesmo muito estranho? Quem estará protegendo a venda do crack?
Pois pensava em escrever sobre o assunto, mas não precisei. Recebi um texto claro e elucidativo de André Barros, advogado da Marcha da Maconha, que apoio integralmente.
Eu também quero saber quem financia esse tráfico danoso, e quem o protege. 



CRACK NO JACAREZINHO E A MACONHA

Por André Barros

Na década de 1990, quando o crack já estava bastante disseminado em São Paulo, os financiadores do tráfico de drogas ilícitas e armas do Rio de Janeiro ainda não vendiam esta droga. Porém, da mesma maneira que havia acontecido com a cocaína na década de 1980, a maconha foi usada para a introdução de outra substância. Como isso ocorreu? A estratég
ia usada por eles é retirar do mercado a maconha.

De fato, os financiadores detêm o controle da plantação, produção e distribuição no atacado e no varejo, e é evidente que são altamente beneficiados pela proibição da plantação caseira. A preferência pela maconha por 80% dos consumidores de substâncias tornadas ilícitas é empiricamente demonstrada. No entanto, ela é mais difícil de transportar e menos lucrativa.
Apesar de ser mais barato que a cocaína, o crack é altamente rentável, já que é vendido em grandes quantidades, o custo com produtos químicos é menor, de modo que se mantêm altas margens de lucro. Assim, não falta dinheiro para corromper boa parte do sistema penal, por meio das semanalmente anunciadas caixinhas.

Mais uma vez, não sabemos quem financia esse cartel e ninguém foi preso ou denunciado no Jacarezinho por conta do Artigo 36:

“Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.”

O que vemos na cobertura da mídia é apenas o espetáculo das internações compulsórias. Ignorando onde estão os financiadores, esses sim, os verdadeiros traficantes, assistimos às cenas em que milhares de jovens pobres são recolhidos pela Prefeitura. Por meio delas, os meios de comunicação manipulam a opinião pública querendo nos fazer crer que haveria possibilidade dos usuários se recusarem à internação. Então, seria possível àquelas centenas de pessoas recolhidas em ônibus no Jacarezinho e Manguinhos se dirigirem aos distantes abrigos oficiais por livre e espontânea vontade? Independentemente da controvérsia gerada pelo tema das internações compulsórias, expressão que por si só indica um pleonasmo, estas cenas com os consumidores prestam-se a retirar a atenção para os autores mediatos deste comércio ilegal.
Queremos saber quem está por trás disso tudo, quem financia esse mercado que conta com milhões de consumidores de substâncias ilícitas. Não queremos um Estado fraco com os fortes e forte com os fracos.

A proibição da plantação caseira de maconha interessa diretamente a esses misteriosos financiadores do tráfico que não são sequer denunciados no citado artigo 36 da Lei 11343/2006.
A ilegalidade do direito de plantar maconha beneficia diretamente o cartel do crack e da cocaína, que retira estrategicamente a planta da paz para a introdução de substâncias altamente danosas à saúde. Se a plantação e o consumo de maconha fossem descriminalizados, cairia o consumo de cocaína, de crack, de cigarro e de bebida.

Ao contrário de ser “a porta de entrada”, como repete o discurso midiático e do senso-comum, a maconha é a porta de saída de todas essas substâncias numa política de redução de danos.

ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha

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3 de outubro de 2012

A VITÓRIA DE UNS

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

(Fernando Pessoa)

Então é isso: não importa que os jornais divulguem todos os dias os números e os casos, vamos chamar assim, de mortes por incompetência do Estado. De quem é a culpa pela falta de esgoto, pelo transporte caótico, pelo lixo, pelos engarrafamentos, pelo medo, pelo assalto, pelo golpe, pelas calçadas eliminadas, pelo péssimo serviço de saúde e (oh!) pela inimaginável confusão que hoje se chama educação - isso ninguém sabe. Estão todos satisfeitos, estão todos conformados com o quinhão que lhes cabe e que parece já é muito. A polícia está aí para assegurar a ordem. A ordem é trazer insegurança. Agora chegam as Forças Armadas. Para que tanta alegria? As milícias não morrem. Elas são o crack da polícia. Todo o mundo tem seu vício. 

Pois então, quem sou eu para me insurgir? Quem sou eu para achar que está tudo mal e que o fato de todos terem celular não significa exatamente que saibam o que estão falando? Só de uma coisa temos certeza: somos cada vez mais burros, mais mal educados, mais primitivos. Não adianta o prefeito dizer em elaboradíssimas peças publicitárias, com sua cara de bom moço e sua camisa sempre limpinha que o amor pelo Rio fará com que nós todos, juntos, façamos um Rio melhor. Não me fará chorar com  aquela voz embargada de quem não se cansa de trabalhar pela cidade. Não deve ser assim tão difícil. Não deve ser tão cansativo, pois se fosse não repetiria a dose. E não me importa o que diz o TSE. Quem estivesse em cargo executivo não poderia concorrer A NADA. Vai fazer seu trabalho, e NUNCA usar a máquina pública para "facilitar as coisas",

Então é isso: está tudo muito bom com o povo das favelas, que só são estimulados a praticar esporte, como se o esporte fosse a única coisa que pudesse resgatar um jovem pobre do perigo do seu meio. É claro que o sistema acha que para um pobre está muito bom qualquer coisa em que ele possa se destacar. Mas um povo não é feito de gente coroada. O povo é uma outra coisa que se move em várias direções com preparo insuficiente. Não pode caminhar mais do que o sistema lhe oferece: E o sistema não lhe oferece o mais importante, que é uma educação de base e liberdade de pensamento. Tudo vem pronto, enlatado. É sempre a mesma música. 
Além disso, quem sou eu para duvidar do sistema eleitoral? Garantem que é bom, que é moderno, mas eu sei que hoje em dia, com tanta tecnologia, não há resultado que não possa ser modificado.  
Mesmo assim vou sair de Piratininga, em Niterói, atravessar a ponte e seguir até Ipanema para votar em Marcelo Freixo. Não serei eu que aumentarei a diferença. Voto consciente do fracasso. Não será a primeira vez. Mas é a primeira vez com tanta vergonha. 

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