31 de dezembro de 2012

MARAVILHAS


O calor, a doença, a morte, o vazio, um defeito no computador, o sangue fraco, o trânsito. Isso tudo foi dezembro. O mundo, o que era o meu mundo,  vai se esvaziando de gente e se enchendo de lembranças, de fotografias, de risadas que se perderam no passado mas às vezes ecoam, na intimidade do silêncio. 
Tudo bem, sempre há as vitórias nessa luta pela sobrevivência. Como viver sem bandeiras e estandartes? A causa da legalização deu seus passos e entrará, a partir de amanhã, no circuito oficial da representação política, graças à eleição de Renato Cinco - desde o início a figura que catalizou tantos adeptos. 
Pra quem pensa que maconheiro é deitado, saibam todos que uma grande convicção move o Vereador eleito, ao longo dos anos, planejando, executando e ainda administrando idiossincrasias, e assim conseguiu com que o movimento se alastrasse pelo Brasil. 
Também a galera que o acompanha é de gente forte, firme nas idéias libertárias. André Barros, um dos companheiros mais antigos e leais, além de advogado dos perseguidos revelou-se um talentoso articulista. Ainda com uma pegada de advogado, mas necessária, porque as pessoas demoram a compreender e também ignoram quase tudo. É preciso citar as leis, mas antes de tudo é preciso fazê-las, ou revogá-las. Renato Cinco estará lá, em terreno perigoso, presa de pressões e constrangimentos, mas estará lá. 
Eis a tal esperança, literalmente verde. 
E alegre. Não são mais os maconheiros temerosos e circunspectos do PT bebê. Esses foram extintos pela realidade. Hoje a repressão é outra. Um grupo festeiro fundou o bloco carnavalesco Planta na Mente, famoso ao nascer, como são as coisas hoje. São jovens, são bonitos, fazem seus estudos, trabalham e ainda têm tempo para a militância. 

Mujica, no Uruguai, também teve que dar um passo atrás, atendendo à maioria conservadora. Uma missão norte-americana esteve no Uruguai, sabe lá do que ainda são capazes. 
Os conservadores celebram a bandeira de que na Holanda o governo restringiu a venda de maconha aos estrangeiros. Um erro. Sempre haverá maneiras de um holandês descolar um troco e vender para os gringos, chamando primo e sobrinho pra aumentar na transação. A mente humana não tem barreiras quando quer alguma coisa. E é só para isso que existe a repressão: para estimular a idéia do convicto de burlar a lei e atingir o fim pretendido. Como os hackers, por exemplo. Esses, no entanto, são bem-vindos ao mercado.
Eu poderia pertencer a um movimento pelo fim do estupro. Mas como assim, o fim do estupro, a partir de uma educação machista e descabida? Nem a religião ou a lei, que ameaçam com a culpa ou a cadeia, resolvem o problema. Lavagem de honra, pura bobagem. A honra é manchada a toda a hora. Vamos ficando tisnados de tanta desonra. Quantas mulheres casadas não são estupradas regularmente por seus caros consortes? Mas essa luta precisa que as mulheres se levantem. É dura a caminhada.

Mas a luta pela legalização da maconha também abrange a luta pela  liberdade da mulher e a de todos os oprimidos. É a luta pela liberdade de alimentar, plantar e colher o prazer. Coisa que muitos não entendem.

Desejo a Renato Cinco que não lhe falte o bom senso e que isso não signifique perder a coragem. É preciso firmeza frente a bispos e pastores,  coronéis e poderosos de qualquer hierarquia.
Confira, quem quiser  ter opinião mais substancial sobre o assunto, o blog do André. Ser contra ou a favor por ouvir falar é pouco, muito pouco para formar opinião. 


E a poesia? Bem, está aí para quem quiser senti-la. Mas quando Ela escolhe o poeta, olha na sua direção, toca-lhe corpo e alma, ele sabe o que vale a pena na vida. O sentido da vida, sobre o qual muito se especula, é apenas sentir, compreender e aguardar. Ninguém sabe o que virá.

E a cidade? E o reveillón? Isso vocês podem ver ao vivo ou pela televisão.
O que só verão aqui é o texto magistral que fala de uma outra cidade, que só o poeta percebe.

Maravilhosa

* por Daniel Santos



Nada cala os tambores da cidade fatigada. Os dias entram pelas noites com insônia de profundas olheiras, numa convulsão requebrosa pelo divertimento a todo custo, ansiedade sem o cabresto do recato.

Houvesse um colapso, as tensões se aliviariam, mas recorrente é o frenesi que toma todo o sítio das promoções vantajosas, das produções milionárias, das platéias que se convulsionam roufenhas à exaustão.

Sempre prestes, incapaz de escapar ao incessante gerúndio, a cidade atrai turistas, forasteiros, curiosos e os imiscui na rotina da alegria ruidosa que preenche todos os horários, sem noção de prazo nem de limites.


Canta, dança, sua e emite à atmosfera eflúvios da própia alma, da sua inquieta essência. Assim, o delírio em suspensão volta a se depositar, grão após grão, sobre essa que desconhece descanso, tranqüilidade.

Quando a fadiga beira a ruína, o troar dos tambores anima criaturas quase esgotadas, sem licença para a pausa. E prossegue assim, o permanente show das multidões sem consciência do próprio desespero. 


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Eis aí. Aos meus caros apoiadores, amigos e leitores das minhas divagações, agradeço.
Ao jornal O Cometa, que me sustenta na sede do sonho de um jornal de verdade. 
A todos aqueles que, gentilmente, me chamaram para serem seus amigos em redes sociais, explico: não posso. Sou muito contida em minha intimidade, acostumada ao que chamam de solidão, e eu chamo de paz.
Consegui-a, em momento de desespero, num pacto com Deus. A qualquer vacilo, lembro da palavra empenhada e agradeço a vida que tenho, os amores que mereci ou despertei, os filhos que tive e os que me tiveram
E numa homenagem ao amor, à paz e à divindade eu, certamente, já apertei um.  

E para terminar esse texto que já vai comprido enquanto o calor aumenta, uma piada de maconheiro:

O cara estava indo pra casa, numa quebrada, quando surge o policial e pergunta: 
- Tá levando uma parada aí?

O cara, pego de surpresa com um polícia saindo da moita, responde:
- Ainda não.



...


9 de dezembro de 2012

DEUS ESTÁ SOLTO (Ítalo Rovere)

Alegrem-se todos, o sol voltou, Deus está solto.

E eu estou feliz porque neste final do ano de 2012 haverá dois lançamentos de livros de amigas, poetas de fé, acima de tudo. 
Astrid Cabral e Márcia Cavendish Wanderley lançam seus novos livros. Márcia autografa  A Idade do entendimento no dia 10, na Blooks; Astrid, Palavra na berlinda, dia 13, na Livraria do Bardo. 
As maçãs de antes é o título do livro com o qual Lila Maia venceu o concurso de poesia do Estado do Paraná e no dia 10 estará viajando para Curitiba para receber o prêmio. 
Todos sabem como é difícil a vida do escritor, e mais ainda do poeta, ainda mais se for mulher. Não basta que o poeta seja reconhecido por seus pares. Não basta que dedique todo o seu esforço para que sua voz seja ouvida, publicando em antologias, concorrendo a concursos, às vezes pagando as próprias edições em pequenas editoras. 
Os concursos, por sua vez, não facilitam. Exigem sempre inéditos. Enquanto a música pode percorrer todas as ondas e os quadros viajem para serem vistos, e os filmes vencedores de festivais concorram a outros,  e o ballet, e a ópera se repitam pelos séculos - do escritor é exigido o ineditismo. Como se aquele poema vencedor não pudesse e não devesse ser mil vezes executado, lido, ouvido. Os músicos têm até a sua "música de trabalho", que são as mais importantes, as de maior sucesso.
Na literatura, não. Poema ou livro que vence concurso não pode concorrer a outro. A trajetória do poema que gerou o agrado de todos os jurados é também a sua sentença de retiro.
Poema bom é poema morto, para os organizadores dos concursos. 
Além de tudo, o velho e alquebrado descaso do mercado editorial, que determinou num certo dia que poesia não vende. Mesmo num momento histórico de consumo excessivo, parece que o padrão não mudou.
É difícil para todos, e sempre mais para as mulheres.
Mas há um dia em que a estrela brilha, Deus passa por perto e acende uma luz na vida daquelas que não contam com facilidades, mas que se mantém resistentes e firmes em suas trajetórias diversas. 
Por isso abraço sinceramente essas três mulheres plenas que se comprometeram com o que há de mais sério e abrasador: o amor e a poesia.
E isso se torna mais importante quando se sabe que num mundo de homens, mesmo que as mulheres sejam maioria, ainda é pequeno, muito pequeno, o universo dessas estrelas não reconhecidas, mas que brilham porque esse é seu destino.
Por tudo isso estou feliz, e também por outros milagres que me chegam, diretos ou indiretos, 
que aprendi a identificar desde que passei a observar mais céu e lua. E amar, ainda mais, sol e mar.







ASTRID CABRAL 

Atraso de vida

Por causa da poesia
o feijão queima
o leite entorna
esquece-se o troco
vai a roupa do avesso
chora o bebê com fome
perde-se o trem.
Mas viaja-se.

Sabe-se lá para onde
que anônima nuvem.


No meio do caminho

No meio do nosso caminho
tinha também uma pedra.
Não a pedra do poeta
verbal abstrata alegórica.
Tinha sim, uma pedra renal
concreta crônica sólida.
Tinha uma pedra plural:
extraída uma, outra surgia.

Nunca esqueceremos o lar mudado em hospital.
Dentro do corpo tinha um cálculo
obstáculo à união carnal.
Tinha uma pedra no caminho
do paraíso real.


Com a palavra o poema

Não ponha outra música no verso.
Seria equívoco, seria excesso.
O poema pede silêncio.
Quer proclamar o próprio som.
É canção de outro universo.
Cordas? Bastam as vocais.
Ouça, sua música de outro tom
avança em cortejo de vogais
jorra da fonte dos fonemas.
Não destrone a palavra.
De outra lavra a música do poema. 





MÁRCIA CAVENDISH WANDERLEY

 Shakespeare


Ferozes na poesia como feroz no amor foi Lear.
Paixão, intensidade, medo, ultraje, obstinação,
nada lhes falta, 
a estes personagens criados pelo bardo
como disfarces de seu próprio ego. 
Inventor da estranheza e insanidade 
que carregamos como prêmios 
ingratos
à nossa humanidade.



EROS HOSPITALAR

Ela chegou com medo de morrer, 
ele tomou-a nos braços com carinho.
Tudo vai dar certo, lhe disse baixinho.
Deitou-a numa cama branca com cortina
e repousou a cabeça em seu peito, gravemente.
Pensou que fosse amá-la ali mesmo!
porém alguém gritou na cama em frente:
Está doendo !!!!!!!!!
Ele correu para outro paciente.



SUBMERSA


Dizer que a vida é sempre possível 
mesmo quando a terra está por cima 
hoje não me serve pra nada.
Não me anima ver Derinkuyu
cidade submersa 
não no mar, mas no sonho de homens que beberam 
o vinho do inverno sob caves, 
quando lá fora a primavera explodia.
Já me enganaram os fatos,  
extraí seiva da História 
embarquei desenganada no entusiasmo dos loucos 
ou de quem estava perto.
Agora prefiro o negror onde a verdade paira, 
e o coração não sonha mais.   
Quando setembro chegar,  
beberei com você o vinho do afeto sem espinhos
mas hoje, estou para poucos. 


Os poemas do livro vencedor ainda não foram divulgados. Mas esses que lhes dou são do também premiado
Céu Despido.

LILA MAIA







Relíquia

Feito um menino que guarda seus segredos num cofre profundo,
escrevo cartas que jamais enviarei.
Estou convencida de que herdei da minha avó Palmira
o mesmo silêncio de pôr o rosto onde chove muito,
de entrar na casa da infância pela janela.
Nunca acreditei naquele cigarro que permaecia horas e horas aceso.
E fui adestrando asas para me ter por inteiro.
O limite era não desaguar
nem ficar nu.

Feito um adulto que menino olha o espelho,
continuo molhando minha coragem
e me permito cantar um blue

Quase lamento

Desses sonhos mais simples Deus não sabe
Nunca sentirá o prazer de ter livros na estante
e da falta que fazem uma mesa, quatro cadeiras,
um colchão de casal
Ele não compreende aquela janela inquieta,
as paisagens que transbordam livres

Deus é o que há de mais interminável em mim: a dor
Mas eu bebo do cálice
como do pão
às vezes ofereço a outra face por amor

O tempo segue com seu fogo milenar
Eu passo o pente nos cabelos sobriamente
Sobrevivo diante dos mistérios,
e desta claridade que não salva

Meu anjo

Avança decidido pela porta da noite
Ajoelha-se como se precisasse conhecer
o sistema de minhas artérias
Depois descobre os pontos
onde me sinto limitada
e só a mim seu alvo fere
Se grito três vezes seu nome
o perdido é uma cidade que amanhece
Se sussurro, mais fome desfere

Meu anjo quase sempre pintado de vermelho
me arrasta para o tanto que não sei
Não é nenhum Gabriel
mas seu cheiro, seu corpo calcinado
de águas e mistérios
além dessas rajadas
tem pétala de flor aberta


Quarto alugado


Tudo tem a dureza de muitos degraus.
Um esgrimir que corta aquele feeling
de perceber encantamentos.
Até a cama não comporta o meu desejo par.
É ímpar a saudade dos livros espalhados na mesa.
Hoje, Clarice e Drummond continuam na mala.

E aquela voz que lapidava
escuridão e chama,
quando eu tinha o direito de dar
nomes ao silêncio, 
agora vive como se estivesse
olhando a presa.


...



3 de novembro de 2012

SEBASTIÃO UCHOA LEITE

Tinha um texto pronto sobre o Feriadão dos Finados, que é como se chama hoje o Dia dos Finados.
Seria bom que os dias do Feriadão pertencessem mesmo aos finados que gostaríamos de rever, saber como estão. Seria dia de visita, mas ao contrário. Eles nos contariam coisas, bem vivos, e nós, perplexos, os ouviríamos. 
Bobagens. Isso já acontece. Do nada me cai nas mãos o livro do poeta pernambucano Sebastião Uchoa Leite, morto em 2003, autor de uma obra original e intrigante, cheia de mistérios, às vezes, e de ironia, muitas vezes premiada.    
Da visita do poeta deixo-lhes aqui três poemas, do livro A espreita, publicado em 2000.
E dos mortos só esperamos isso: que continuem bem vivos e nos apareçam assim, quando querem, ou estejam à mão para qualquer necessidade nossa, de salvação.


Espreita


É uma espécie de Cérbero
Ninguém passa
Não escapa nada
Olho central
Fixo
À espreita
Boca disfarçada
Que engole rápido
Sem dar tempo
Depois dorme
Aplacado



Fora algumas metáforas

Fora algumas metáforas
Nada é nada
Nem a máquina Enigma
Ou a desenigmação total
Os códigos
Descontróem-se

Nem a "Fuga da morte" de Celan
Auschwitzes
Ou Adornos
A fama
Que enfara os que
Fora os quiosques
Nada vezes nada
Nem o enfado dos poetas
A máquina crítica
A constrição das tripas
fora os que podem
E os que
Se etceteram 

A luz na sombra

Súbito - do outro lado -
Vejo-o projetado
No espaço
Deste lado
Os focos sobre almofadas
Uma luz amarela
Os quadros também
Esquálido
Amarelomagro
Na sombra
do além-vidro
Vida em-si
Universo invisível
Vazio
Corpo absorto
em queda
Na sombra-silêncio

...


1 de novembro de 2012

VEJA, MAS NÃO ACREDITE

Quisera não ter que escrever mais palavras como FHC, guerra às drogas, apreensão de maconha, Veja, etc. Quisera que nada disso existisse mais e que em vez disso nos referíssemos à liberdade de escolha, à legalização, a revistas idôneas. Quimeras.
Mas sou obrigada a me referir a uma matéria publicada pela tal revista, que nem leio há muitíssimo anos, mas cuja venda não pára de disseminar artigos nocivos e que levam confusão a respeito da legalização, não bastasse a que já existe.
Transcrevo, portanto, outra vez, a palavra de André Barros, porque está melhor do que eu faria, e porque saiu na frente.
André tem sido um incansável batalhador na luta e na defesa dos que plantam em casa. Isso acontece quando o Estado vai na contramão dos fatos. Ao invés de incentivar o plantio caseiro, prefere perseguir os maconheiros caseiros e seguir com o tráfico pesado. Deduz-se daí que não querem perder mercado. E quando se diz polícia, se diz Estado. Ou não?
O Estado vem a ser, portanto, indiretamente, se quisermos, o responsável pelo consumo e a venda de drogas de má qualidade, resultante da grande e constante demanda. Houvesse controle de qualidade, comercialização e concorrência, a história seria outra.  




VEJA QUER INTERNAR E PRENDER OS MACONHEIROS

Em matéria anti-democrática, sem o contraditório e sem respeito à pluralidade de ideias, a revista Veja acusa a maconha e o faz usando o falso argumento de que seus defensores dizem que a planta não faz mal a saúde. Todos sabem que o ato de fumar não é saudável, inclusive seus usuários utilizam filtros, bongs, vaporizadores para reduzir o dano.
Mas o interior da matéria é que é muito perigoso. À fl. 94, diz que apenas 10% dos pacientes internados em clínicas de dependentes foram parar ali em razão da maconha, insinuando que deveriam ser muito mais. E no final, à fl. 100, parte de uma espetada no Lula, dizendo que ele sancionou a atual Lei 11343/2006 que acabou com a pena de prisão para os consumidores e para plantadores de pequena quantidade para uso próprio. Tratando-se de matéria denuncista, omitiu o ex-presidente Fernando Henrique, atualmente defensor da legalização da maconha. Conclui dizendo ser muito difícil distinguir o consumidor do traficante e que este último se beneficia da lei sancionada por Lula passando por consumidor. Defende a volta da pena de prisão para os consumidores.
Colocam-se como donos de uma verdade científica e afirmam que a maconha é pior que o crack, a cocaína, o álcool e o cigarro. Trata-se de um absurdo, pois em classificações nacional e internacional sobre o grau de dependência de substâncias proibidas, a maconha tem uma classificação fraca ou ausente. A revista chama de inescrupulosos milhares de médicos de 17 estados americanos que prescrevem droga por preços que variam entre 100 e 500 dólares. Segundo a matéria, os médicos estariam se beneficiando da maravilhosa descoberta de que a maconha ajuda no tratamento de câncer, AIDS, glaucoma etc. Observem até que ponto chegou a parcialidade da revista.
Nadando na onda das internações compulsórias, movida pelo discurso terrorista da epidemia do crack, a revista sugere subliminarmente internações e prisões também dos maconheiros. Escondem que uma grande medida para a saída do crack é a maconha, política que está sendo adotada pelo nosso vizinho Uruguai, cujo presidente Mujica também fez a luta armada contra o regime militar, como a atual presidenta do Brasil Dilma Rousseff. A revista omite, também, o estudo feito pelo psiquiatra Dartiu Xavier da Universidade Federal de São Paulo, onde 68% de 50 consumidores deixaram o crack com o uso da maconha.
Nestas operações contra o crack, nenhum financiador do tráfico foi denunciado no artigo 36 da Lei 11343/2006. Ocorrem apenas prisões de consumidores brutalmente internados. Trata-se do Estado fraco com os fortes e forte com os fracos. Essa política de internações compulsórias viola uma das maiores conquistas da humanidade contra o poder de punir do Estado, o princípio da reserva legal, insculpido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no primeiro artigo do Código Penal Brasileiro e no inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição Federal: “ XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;”.
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Se não existe pena de prisão para os consumidores de drogas tornadas ilícitas, essas internações compulsórias em abrigos de concentração são inconstitucionais e aterrorizantes em relação à liberdade de todos. Não podemos aceitar qualquer violação às garantias libertárias, pois os paradigmas indiciários da chibata de nossas raízes escravocratas acumulada com a tortura da ditadura militar ainda são muito presentes em forma de mercado.
ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha

--
ANDRÉ BARROS
http://andrebarrospolitica.blogspot.com/


Aí está o nosso André, que advoga por profissão e por uma causa, coisa rara.
Talvez seja interessante lembrar que se a televisão filma as vendas de crack, onde está a polícia que não prende os traficantes? 
Aliás, uma polícia que confunde pneu furado com tiro é bom que não esteja em lugar nenhum.
E para terminar, já que não pude celebrar Drummond na data do seu aniversário, faço-o hoje, com os últimos versos do poema Os ombros suportam o mundo e que têm tudo a ver com a realidade de mentira que vivemos (e agora viveremos por mais quatro anos)

Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. 
A vida, apenas, sem mistificação.
(CDA)

...

18 de outubro de 2012

O ESTADO PELO CRIME 2


A televisão bate no assunto dos viciados em crack ao mesmo tempo em que anuncia apreensões de maconha. 
Pois se o problema é o crack, por que não apreendem o crack? Onde está ele, que ninguém vê, nem  mesmo a polícia que é tão chegada a operações de "inteligência"? Ao que tudo indica, o crack tem venda liberada. A maconha é que não. Não é mesmo muito estranho? Quem estará protegendo a venda do crack?
Pois pensava em escrever sobre o assunto, mas não precisei. Recebi um texto claro e elucidativo de André Barros, advogado da Marcha da Maconha, que apoio integralmente.
Eu também quero saber quem financia esse tráfico danoso, e quem o protege. 



CRACK NO JACAREZINHO E A MACONHA

Por André Barros

Na década de 1990, quando o crack já estava bastante disseminado em São Paulo, os financiadores do tráfico de drogas ilícitas e armas do Rio de Janeiro ainda não vendiam esta droga. Porém, da mesma maneira que havia acontecido com a cocaína na década de 1980, a maconha foi usada para a introdução de outra substância. Como isso ocorreu? A estratég
ia usada por eles é retirar do mercado a maconha.

De fato, os financiadores detêm o controle da plantação, produção e distribuição no atacado e no varejo, e é evidente que são altamente beneficiados pela proibição da plantação caseira. A preferência pela maconha por 80% dos consumidores de substâncias tornadas ilícitas é empiricamente demonstrada. No entanto, ela é mais difícil de transportar e menos lucrativa.
Apesar de ser mais barato que a cocaína, o crack é altamente rentável, já que é vendido em grandes quantidades, o custo com produtos químicos é menor, de modo que se mantêm altas margens de lucro. Assim, não falta dinheiro para corromper boa parte do sistema penal, por meio das semanalmente anunciadas caixinhas.

Mais uma vez, não sabemos quem financia esse cartel e ninguém foi preso ou denunciado no Jacarezinho por conta do Artigo 36:

“Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.”

O que vemos na cobertura da mídia é apenas o espetáculo das internações compulsórias. Ignorando onde estão os financiadores, esses sim, os verdadeiros traficantes, assistimos às cenas em que milhares de jovens pobres são recolhidos pela Prefeitura. Por meio delas, os meios de comunicação manipulam a opinião pública querendo nos fazer crer que haveria possibilidade dos usuários se recusarem à internação. Então, seria possível àquelas centenas de pessoas recolhidas em ônibus no Jacarezinho e Manguinhos se dirigirem aos distantes abrigos oficiais por livre e espontânea vontade? Independentemente da controvérsia gerada pelo tema das internações compulsórias, expressão que por si só indica um pleonasmo, estas cenas com os consumidores prestam-se a retirar a atenção para os autores mediatos deste comércio ilegal.
Queremos saber quem está por trás disso tudo, quem financia esse mercado que conta com milhões de consumidores de substâncias ilícitas. Não queremos um Estado fraco com os fortes e forte com os fracos.

A proibição da plantação caseira de maconha interessa diretamente a esses misteriosos financiadores do tráfico que não são sequer denunciados no citado artigo 36 da Lei 11343/2006.
A ilegalidade do direito de plantar maconha beneficia diretamente o cartel do crack e da cocaína, que retira estrategicamente a planta da paz para a introdução de substâncias altamente danosas à saúde. Se a plantação e o consumo de maconha fossem descriminalizados, cairia o consumo de cocaína, de crack, de cigarro e de bebida.

Ao contrário de ser “a porta de entrada”, como repete o discurso midiático e do senso-comum, a maconha é a porta de saída de todas essas substâncias numa política de redução de danos.

ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha

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3 de outubro de 2012

A VITÓRIA DE UNS

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"

(Fernando Pessoa)

Então é isso: não importa que os jornais divulguem todos os dias os números e os casos, vamos chamar assim, de mortes por incompetência do Estado. De quem é a culpa pela falta de esgoto, pelo transporte caótico, pelo lixo, pelos engarrafamentos, pelo medo, pelo assalto, pelo golpe, pelas calçadas eliminadas, pelo péssimo serviço de saúde e (oh!) pela inimaginável confusão que hoje se chama educação - isso ninguém sabe. Estão todos satisfeitos, estão todos conformados com o quinhão que lhes cabe e que parece já é muito. A polícia está aí para assegurar a ordem. A ordem é trazer insegurança. Agora chegam as Forças Armadas. Para que tanta alegria? As milícias não morrem. Elas são o crack da polícia. Todo o mundo tem seu vício. 

Pois então, quem sou eu para me insurgir? Quem sou eu para achar que está tudo mal e que o fato de todos terem celular não significa exatamente que saibam o que estão falando? Só de uma coisa temos certeza: somos cada vez mais burros, mais mal educados, mais primitivos. Não adianta o prefeito dizer em elaboradíssimas peças publicitárias, com sua cara de bom moço e sua camisa sempre limpinha que o amor pelo Rio fará com que nós todos, juntos, façamos um Rio melhor. Não me fará chorar com  aquela voz embargada de quem não se cansa de trabalhar pela cidade. Não deve ser assim tão difícil. Não deve ser tão cansativo, pois se fosse não repetiria a dose. E não me importa o que diz o TSE. Quem estivesse em cargo executivo não poderia concorrer A NADA. Vai fazer seu trabalho, e NUNCA usar a máquina pública para "facilitar as coisas",

Então é isso: está tudo muito bom com o povo das favelas, que só são estimulados a praticar esporte, como se o esporte fosse a única coisa que pudesse resgatar um jovem pobre do perigo do seu meio. É claro que o sistema acha que para um pobre está muito bom qualquer coisa em que ele possa se destacar. Mas um povo não é feito de gente coroada. O povo é uma outra coisa que se move em várias direções com preparo insuficiente. Não pode caminhar mais do que o sistema lhe oferece: E o sistema não lhe oferece o mais importante, que é uma educação de base e liberdade de pensamento. Tudo vem pronto, enlatado. É sempre a mesma música. 
Além disso, quem sou eu para duvidar do sistema eleitoral? Garantem que é bom, que é moderno, mas eu sei que hoje em dia, com tanta tecnologia, não há resultado que não possa ser modificado.  
Mesmo assim vou sair de Piratininga, em Niterói, atravessar a ponte e seguir até Ipanema para votar em Marcelo Freixo. Não serei eu que aumentarei a diferença. Voto consciente do fracasso. Não será a primeira vez. Mas é a primeira vez com tanta vergonha. 

...


21 de setembro de 2012

INCLUSÃO SOCIAL - 3 HISTÓRIAS










“SE MORAR É UM DIREITO INVADIR É UM DEVER” (MST)





PREZADA D. DIDI,

a senhora já sabe tudo que aconteceu pela televisão
mas na televisão é uma coisa e aqui é outra

chegam primeiro os homens da prefeitura
vão construir um lugar melhor para todos
mas quando falam todos
nunca é a gente
depois chegam os polícia, chegam de noite,
pegam as nossas poucas coisas 
e levam pro caminhão.
E nós?
As meninas estão grandes e perguntam pela senhora

por isso eu lhe peço pra ajudar
pode ser qualquer coisa

de um dia para o outro
a gente não tem mais nada

e ainda está viva



PAGAR PARA VIVER

Moro nessa casa há mais de 40 anos. Nasci aqui.
Meus pais já moravam, e ainda moram, mais meus irmãos com as famílias..
Agora eles chegam dizendo que não tenho escritura
que o terreno não é meu
que a área não é segura
Chegam à noite, chegam calados e derrubam
nossa porta.
O vizinho fica quieto. Ninguém diz não.
Se disser...

A mulher chora num canto
Eu não choro mais
Há muito tempo trabalho
e até pago
para ser pobre


O FIM DO AZUL

O homem chegou e disse que o governo ia precisar
desapropriar o meu terreno
e derrubar a minha casa
A prefeitura, ele diz, vai me indenizar e me dar uma casa melhor.

Sei, uma casa melhor a léguas daqui, onde vou perder horas no transporte
e toda a freguesia.
Mas tinha jeito?
Assinei o papel.

Perdi o direito até de olhar o mar.
E era só olhar.



veja também.

11 de setembro de 2012

O ESTADO PELO CRIME

Cada um de nós tem manias. Eu tenho várias. Uma delas é ler classificados. Quando estou em outra cidade, por exemplo, a leitura de classificados me mostra mais ou menos o mapa da cidade e a distribuição de renda.
Também vejo propaganda eleitoral na televisão. Ao menos no início. Não porque nos informe de alguma coisa - tudo é mentira na tv, mas por causa das sensações que nos desperta. Riso muitas vezes, perplexidade, ira, revolta, outra vez o riso.
Lula apóia Eduardo Paes, como já apoiou Sérgio Cabral. "Veja a diferença entre o Rio há 30 anos e o de hoje". Que coisa! Nem ele nem Eduardo Paes sabem como era o Rio há 30 anos. Como comparar? Confesso, meus amigos: como dói!
Fernando Henrique recomenda Otávio Leite como se dissesse: não temos mesmo outra merda. Vamos com essa mesmo. Mas Fernando Henrique, lembrando Millor,"é um idiota. É o Sarney em barroco. Ele não diz coisa com coisa".
Otávio Leite promete duas professoras em cada sala de aula, mas não lhe passou pela cabeça dividir a classe em duas e confiar cada uma a uma só professora. Lula, com ar compungido, apóia Eduardo Paes com outra cara. Na época ele era O Cara, e Sérgio Cabral , na  visão dele mesmo, também era. Ambos rumo à Copa, uma fonte interminável de dinheiro (Lembrai Havelange e Ricardo Teixeira) mas antes (e rápido) a "pacificação" para o prefeito agora candidato posar de bom moço, como Sérgio Cabral fazia com os velhinhos, e o caso da Clínica Santa Genoveva foi um dos maiores exemplos.
Marcelo Freixo é, sem dúvida, o melhor candidato. Não há outra escolha se o braço gangrenado do Estado, a polícia, não buscar tratamento. Como se sabe, não há cura. O mais perto disso é não deixar que se espalhe, e é aí que Marcelo Freixo é importante, porque Eduardo Paes já fez sua opção pela guerra, ao contrário do que muitos pensam. Não há motivo para que a população pobre, além de ser pobre, seja também humilhada e engrosse, incrivelmente, a relação das mães que perderam seus filhos, dos filhos que perderam seus pais em confronto com a polícia sem que houvesse confronto ou testemunhas. "A injusta agressão", as deslavadas mentiras coletivas na comparação com as imagens. Todo o tempo o crime. Afastados para "investigações" os policiais criminosos saem das ruas e vão para a administração. Ora, também há crime na administração.

Chico Buarque e Wagner Moura apoiam Marcelo Freixo
Dudu Nobre e Diogo Nogueira apoiam (mas parece que foram pagos) Eduardo Paes. De qualquer forma, já se vê a diferença.
Há quem divulgue a farra das Olimpíadas. Mas esquecem a dos 500 anos. Governar é assim.
Não posso dizer que daqui a pouco, se eleito, Marcelo Freixo também não beneficiará sua turma. Por que não? Quem acha que isso é impossível não conhece a natureza humana.  
Paes, se tem a máquina, tem também a responsabilidade de apresentar uma boa cidade para viver. Mas o que vemos é cosmético. Asfalto ali e aqui, asfalto, asfalto ruim, porque logo estão de novo os buracos, calor, transporte insuportável, pessoas que morrem no tal BRT, policiais virados bandidos, milícias, matadores. Acho que os polícias ficam tramando planos enquanto incham suas barrigas. Sofrem todos do mesmo mal. Aliás, como é que se formam as barrigas dos policiais? Acaso será tomando cerveja? Ou depois que se formam não fazem mais exercícios? Não sabemos. Talvez só precisem exercitar o dedo e puxar o gatilho. E isso, está cada vez mais fácil.

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24 de agosto de 2012

AMOR ARMADO

Vinha do Rio para Niterói ontem à noite quando fui parada por uma blitz da Lei Seca.
Foi a primeira vez que fui parada numa blitz.
Vá lá. Quase nunca bebo e também ontem não tinha bebido. Um policial enfiou sua barriga na janela do meu carro e me pediu documentos. Entreguei. Em seguida me perguntou se concordava em fazer o teste do bafômetro e eu, que não quero espichar meu contato com polícia nenhuma e conheço as consequencias legais, só tive que engolir. Fui até a tenda, ele me mostrou o bico descartável e eu soprei naquela merda com todo o ar que era possível, a ver se me livrava da raiva que estava sentindo, da humilhação mesmo de ser parada por um babaca a partir de uma política que acha que a maioria é culpada e que todo cidadão deve se submeter à autoridade, mesmo que ela seja grossa e mal encarada.
As pessoas a quem contei o fato acham que tudo bem, que é assim mesmo, que é preciso impedir que motoristas bêbados andem por aí matando pessoas. Acontece que a grande maioria da população não sai bêbada por aí matando pessoas. A minoria é que bebe e, quando mata, não há o que a impeça. Está visto que a polícia só chega depois do morto.
O motorista atento sabe quando o motorista do outro carro está bêbado, falando no celular ou até dormindo, como acontece com frequencia. Ora, se qualquer motorista é capaz de perceber isso, por que a polícia, que é treinada, não pode? Nesse caso, a "autoridade" quando me mandou parar, depois de ver meus documentos em dia poderia ter percebido que eu não tinha bebido, e que ele bem podia me dispensar do teste, uma vez que sou (também é uma política pública) uma idosa que tem, por lei, algumas prioridades. Ao contrário, a "autoridade policial" não quer nem saber. Sabe que estou na sua mão. Sabe que se eu me negar a fazer o teste vou me incomodar mais do que fazendo. E então lá estou eu, prestando contas dos  atos que não cometi a um policial mal encarado. Se me nego: desacato.
Mas quando a polícia inferniza a vida da população causando engarrafamentos por conta de reivindicações salariais, também nenhum motorista sai do carro para dizer que é desacato infernizar a vida de quem eles devem proteger.
Aí está. Vivemos um estado policial em que a repressão é o melhor remédio. Punição, punição e punição. 
Por mais que Eduardo Paes ame o Rio, e o diga quase chorando na propaganda eleitoral, não acredito em amor armado.


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15 de agosto de 2012

CAUSÍDICOS E CAUDILHOS

O título partiu de um ato falho do Ministro Joaquim Barbosa. Ia dizer causídico, falou caudilho, logo ajeitou. É explicável. Afinal, a Justiça sempre obedeceu ao poder da hora. 
A douta Justiça é tão complicada no Brasil que a Globo resolveu colocar um tradutor dando o resumo da ópera que se descortina nas telas a propósito do Mensalão. É tão difícil o linguajar de alguns ministros, e tantas as leis a que se reportam que não é possível a uma pessoa comum nem saber se estão votando contra ou a favor. 
Hoje levou-se um bom tempo para decidir se o Tribunal escrevia à OAB fazendo queixa das ofensas feitas ao Ministro Joaquim Barbosa por três advogados, ou não. Desliguei antes. Pouco me importa o pleito infantil do Ministro e nem sei se era hora de levantar a questão.
Além disso, considerando a palavra dos senhores causídicos, todos os acusados são inocentes. Talvez o procurador geral da República seja enviado a um hospício, visto que inventou tudo isso. 
Eu, você, o cara da banca, o mecânico e o porteiro soubemos que não foi pouco o dinheiro usado por Fernando Henrique para que passasse a emenda da reeleição. Naquela época não aconteceu nada. Ninguém se indispôs com o Poder. Os que aceitaram receber receberam e tudo continuou porque como vocês sabem, a boca é boa. E a Veja era cega.
Desta vez houve uma denúncia, e num país dito democrático, refém da imprensa marrom, é sempre bom investigar. E então armou-se o circo. 
Palco, meus amigos. A Justiça também é feita de vaidade e ilusão. Vaidade, a deles, porque são inalcançáveis e usam para isso o que há de mais difícil: o próprio idioma, mas aquele que foi feito só para os que freqüentam (sim, com trema) as altas cortes. Ilusão, a nossa, que ainda que tenhamos visto quase tudo, às vezes acreditamos.
Enquanto isso, nas ruas, movimentos de categorias diversas vingam-se do Governo infernizando a vida dos outros. Que outros? Nós, impotentes ante causídicos ou caudilhos.
Para melhorar, nos acenam com quê? Eleições!
Não bastasse, vejo que a Sra. Presidente da Petrobras, Maria da Graça Foster, aceita fazer a campanha para o Criança Esperança. Ainda que de capital aberto, o Governo é o acionista majoritário da Petrobras. E a Petrobras é uma das empresas que  financiam o projeto da Rede Globo - oposicionista conhecida do Governo. Vá entender. 


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6 de julho de 2012

A MACONHA SAI DO ARMÁRIO

La marihuana sale del armario

Bem que eu poderia indicar apenas o link para leitura da matéria, mas preferi postá-la inteira, como saiu no jornal, porque me agrada ter na defesa das minhas próprias idéias o nome, um grande nome da literatura mundial. Um prêmio Nobel.
Algumas pessoas se perguntam porque o Brasil ainda não recebeu um prêmio Nobel. Eu não tenho dúvida de que junto com a valor da obra literária, a posição política do candidato é muito importante para vencer.
No Brasil, principalmente nos últimos tempos, não temos ninguém da espécie que se sobressaia. Aqui, só a política partidária, a de pior espécie, é que vinga. A política maiúscula já ninguém conhece. Por isso quando recebo uma notícia dessas fico muito feliz. É como se recebesse um texto escrito por mim mesma, vendo que a minha voz se levanta, na  companhia de Vargas Llosa e de José Mujica, - este sim um guerrilheiro que não esqueceu seu passado e não se faz de cego para os problemas reais.
Poco a poco, la batalla por la legalización de las drogas va abriéndose camino y haciendo retroceder a quienes, contra la evidencia misma de los hechos, creen que la represión de la producción y el consumo es la mejor manera de combatir el uso de estupefacientes y las cataclísmicas consecuencias que tiene el narcotráfico en la vida de las naciones.
Hay que aplaudir la valerosa decisión del gobierno de Uruguay y de su presidente, José Mujica, de proponer al Parlamento una ley legalizando el cultivo y la venta de cannabis. De ser aprobada –lo que parece seguro pues el Frente Amplio tiene mayoría en ambas cámaras y, además, hay diputados y senadores de los partidos de oposición, Blanco y Colorado, que aprueban la medida–, ésta infligirá un duro revés a las mafias que, de un tiempo a esta parte, utilizan a ese país no sólo como  mercado de la droga sino como una plataforma para exportarla a Europa y Asia. Esta ley forma parte de una serie de disposiciones encaminadas a combatir la “inseguridad ciudadana”, agravada de un tiempo a esta parte en Uruguay, al igual que en toda América Latina, por la criminalidad asociada al narcotráfico.
“Alguien tiene que ser el primero”, declaró el presidente Mujica a O’Globo, de Brasil. “Alguien  tiene que empezar en América del Sur. Porque estamos perdiendo la batalla contra las drogas y el crimen en el continente”. Y el ministro de Defensa de Uruguay, Eleuterio Fernández Huidobro, señaló, como razón central de este paso audaz, que “la prohibición de ciertas drogas le está generando al país más problemas que la droga misma”. No se puede decir de manera más lúcida y concisa una verdad de la que tenemos pruebas todos los días, en el mundo entero, con las noticias de los asesinatos, secuestros, torturas, atentados terroristas, guerras gansteriles, que están sembrando de cadáveres inocentes las ciudades del mundo, y el deterioro sistemático de las instituciones democráticas de los países, cada día más numerosos, donde los poderosos cárteles de la droga corrompen funcionarios, jueces, policías, periodistas y a veces deciden los resultados de las justas electorales. La prohibición de la droga sólo ha servido para convertir al narcotráfico en un poder económico y criminal vertiginoso que ha multiplicado la inseguridad y la violencia y que podría muy pronto llenar el Tercer Mundo de narcoestados.
Según las primeras informaciones, este proyecto de ley pondrá en manos del Estado uruguayo el control de la calidad, cantidad y precio de la marihuana y los compradores deberán registrarse y tener cumplidos 18 años de edad. Cada comprador podrá adquirir un máximo de 40 porros al mes y los impuestos que graven la venta se emplearán en tratamientos de rehabilitación y de prevención y en la creación de un centro de control de calidad del producto. En un comentario a la iniciativa uruguaya que leo en Time Magazine, por lo demás muy favorable a la medida, se recuerda el mal administrador que suele ser el sector público, y con buen juicio se deplora que  no  se deje en libertad al sector privado de llevar a cabo esta tarea, eso sí, bajo una estricta regulación.
En ese mismo ensayo se examina lo ocurrido en Portugal, donde desde hace una decena de años se legalizó de manera parcial la marihuana sin que ello haya traído consigo el aumento del consumo de drogas más fuertes, que es lo que suelen alegar que ocurrirá los que se oponen de manera irreductible a la legalización de las llamadas drogas blandas. Time Magazine recuerda además que, según las últimas encuestas, un 50% de los ciudadanos de Estados Unidos se declaran a favor de la legalización del cannabis. Extraordinaria evolución cuando uno recuerda la tempestad de críticas, y hasta de injurias, que recibió hace algunas décadas Milton Friedman cuando defendió la legalización de las drogas y predijo el absoluto fracaso de la política de represión en las que los gobiernos de Estados Unidos han gastado ya muchos billones de dólares.
El Gobierno del Uruguay, al atreverse a legalizar la marihuana, hace suyos muchos de los argumentos y estudios que viene difundiendo la Comisión Latinoamericana de Drogas y Democracia, que encabezan los ex presidentes Fernando Henrique Cardoso de Brasil, César Gaviria de Colombia y Ernesto Zedillo de México, y de la que yo mismo formo parte con otras dieciocho personas, de distintas profesiones y quehaceres, de la región. Recibida al principio con reticencias y preocupación, y a veces duras críticas, esta Comisión ha ido ganando audiencia y respetabilidad por la seriedad de sus trabajos, en los que han participado siempre especialistas destacados, por su espíritu dialogante y la clara vocación democrática que la inspira.
El problema de la droga ya no sólo concierne a la salud pública, al descarrío de tantos niños y jóvenes a que muchas veces conduce, y ni siquiera a los terribles índices del aumento de la criminalidad que provoca, sino a la misma supervivencia de la democracia. La política represiva no ha restringido el consumo en país alguno, pues en todos, desarrollados o subdesarrollados, ha seguido creciendo de manera paulatina, y sí ha tenido en cambio la perversa consecuencia de encarecer cada vez más los precios de las drogas. Esto ha transformado a los cárteles que controlan su producción y comercialización en verdaderos imperios económicos, armados hasta los dientes con las armas más modernas y mortíferas, con recursos que les permiten infiltrarse en todos los rodajes del Estado y  una capacidad de intimidación y corrupción prácticamente ilimitada.
Lo ocurrido en México es sumamente instructivo. El Presidente Calderón, consciente del enorme riesgo para el funcionamiento de las instituciones que representaba el narcotráfico, decidió combatirlo de manera frontal, incorporando al Ejército a esta lucha. Los 50 mil muertos que esta guerra lleva ya en su haber no parece haber hecho mayor mella en las actividades criminales de los mafiosos, ni haber disminuido para nada el consumo de drogas blandas o duras en la sociedad mexicana, y sí, en cambio, ha desatado una creciente desesperanza y decepción hacia el gobierno, al que se reprocha incluso, con dureza, “haber declarado una guerra que no se podía ganar”. ¡Fantástica conclusión! ¿Había , pues, que bajar los brazos, rendirse, mirar para otro lado, y dejar que los pistoleros y traficantes de la droga se fueran apoderando poco a poco de todas las instituciones de México, que pasaran a ser ellos los verdaderos gobernantes de ese país?
Evidentemente, ésa no podía ser la solución. ¿Cuál entonces? La que, con gran mérito, está emprendiendo el gobierno uruguayo. Cambiar de táctica, pues la puramente represiva no sirve y es contraproducente, ya que beneficia a la mafia, a la que enriquece y confiere más poder. En las actuales circunstancias, la primera prioridad no es poner fin a la producción y al consumo de drogas, sino acabar con la criminalidad que depende íntimamente de estas actividades. Y para ello no hay otro camino que la legalización.
Desde luego que legalizar las drogas implica riesgos. Deben ser tomados en cuenta y combatidos. Por ello, quienes defendemos la legalización siempre subrayamos que esta medida debe ir acompañada de un esfuerzo paralelo para informar, rehabilitar y prevenir el consumo de estupefacientes perjudiciales para la salud. Se ha hecho en el caso del tabaco y con bastante éxito, en el mundo entero. El consumo de cigarrillos ha disminuido y hoy día quedan pocos lugares donde los ciudadanos no sepan los riesgos a los que se exponen fumando. Si quieren correrlos, sabiendo muy bien lo que hacen, ¿no es su derecho hacerlo? Yo creo que sí y que no está entre las funciones del Estado impedir a un ciudadano que goza de sus facultades llenarse los pulmones de nicotina si le da su real gana.
Siempre he tenido una gran simpatía por el Uruguay, desde el año 1966, en que fui a Montevideo por primera vez y descubrí que América Latina no era sólo una tierra de gorilas y terroristas, de revolucionarios y fanáticos, de explotadores y explotados, que podía ser también tierra de tolerancia, coexistencia, democracia, cultura y libertad. Es verdad que Uruguay pasó a vivir luego la atroz experiencia de una dictadura militar. Pero la vieja tradición democrática le ha permitido recuperarse más pronto que otros países y hoy, quién lo hubiera dicho, bajo un gobierno de un Frente Amplio que parecía tan radical, y un presidente de 77 años que fue guerrillero, es otra vez un modelo de legalidad, libertad, progreso y creatividad, un ejemplo que los demás países latinoamericanos deberían seguir.

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1 de julho de 2012

CRIME SEM CASTIGO

Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes de uma mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um lamento de guitarra, alguns retratos e uma velha espada.

(Jorge Luis Borges)

Durante anos a gente ouviu falar que o crime organizado era o tráfico. Depois soube-se que só poderia ser tão organizado com a ajuda da polícia. Mas a polícia cansa de ganhar pouco, e vai atuar na milícia, que é mais organizada. Como o tráfico, tem regras próprias e mais eficazes. Mas com o tempo vimos que o crime, aquele que não é passível de prisão ou de castigo, vem mesmo de cima; de uma justiça cega, não porque seja imparcial, mas porque prefere não ver.A recente quebra dos vidros no prédio do STF pelo impacto de um avião caça é no mínimo uma metáfora. Ou um aviso, não sei. Quem sabe uma  piada. 
Agora a Força Aérea vai pagar o prejuízo. Melhor seria se ao invés do exibicionismo levassem de volta a pobre africana que sobrou da Rio + 20.
Ninguém se feriu, diz a repórter. Feridos mesmo são só alguns milhões de brasileiros, que não cometeram crime nenhum e vivem sob permanente castigo. Inoperância, indiferença, descaso.Mas o Rio é lindo, foi considerado patrimônio cultural da humanidade - declara a Unesco. E todos os brasileiros estão de parabéns. O que fazemos com isso, não sei. Perguntem aos desabrigados de Teresópolis. Talvez eles tenham alguma coisa a dizer. Quanto a mim, a única coisa que me vem à cabeça é esse sentimento que Vinicius traduziu genialmente.

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Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."

......