29 de agosto de 2011

POESIA ESSENCIAL




Caros amigos



Não comentarei aqui o triste acidente ocorrido em Santa Teresa. (Alguém tem dúvida de que essa é uma maneira de acabar com os bondes?) nem a declaração de um chefe de polícia de que "A Milícia mata mais que o tráfico"; a morte por atropelamento causada pelo ex-responsável pelo projeto da Lei Seca ou a cassação da carteira da Diretora do Detran. O que hoje é notícia, amanhã é estatística, principalmente em relação às mortes. Foram-se as pessoas. O governo lamenta, mas dá três dias de luto pela morte de um funcionário da Rede Globo.


Eu não sei bem o que isso significa, e talvez não alcance jamais.


É que sozinha, no meu retiro, às vezes quero comentar os acontecimentos. Mania de ser gregário que ainda subsiste. Mas os acontecimentos de agora são também os não acontecimentos, tipo: "A notícia de última hora é para informar que o terceiro filho do ditador NÃO foi preso". Ou "A vitória ainda NÃO foi alcançada. Coisas assim, do avesso.
Melhor é manter distância e partir para o que é alto, para o que nos estimula e encanta. Falo aqui do volume da Série Essencial editada pela Academia Brasileira de Letras sobre o poeta Raimundo Correia, de autoria do poeta e ensaísta Augusto Sérgio Bastos.


A melancolia, que acompanhou Raimundo Correia durante toda a vida, mais a doença e o desgosto causado pelos invejosos ante às suas qualidades de versejador se dissipam durante a leitura do texto que lhe dedicou Augusto Sérgio Bastos, também um poeta essencial. A voz que ouvimos é a de quem compreende, de quem fala com tanta naturalidade e conhecimento sobre a vida, profissão e poesia de RC que bem poderia ter sido um contemporâneo, um amigo, uma testemunha daqueles tempos.


Raimundo Correia todo o mundo conhece, ou quase todo o mundo que gosta de poesia, mas Augusto Sérgio Bastos não é devidamente conhecido e eu, que gosto de homenagear os vivos, quero informar também que ele é um grande contador de histórias. E estará no próximo dia 5 de setembro falando sobre Raimundo Correia, não só sobre o que está no livro, mas também contando casos interessantes da vida do poeta. No Pen Club, às 18 horas, na Praia do Flamengo 172- 11º andar. É para não perder. Como disse o próprio Augusto em seu poema



Cotidiano



Há que se vender jornais:
isso o jornaleiro faz.
Há que se controlar o trânsito:
isso o guarda na esquina faz.
Há que se varrer as ruas:
isso o gari agora faz.

Há que se tirar o pó das palavras:
isso só o poeta faz.







Deixo-lhes, portanto, um dos mais famosos poemas de Raimundo Correia e, naturalmente, um do poeta Augusto Sérgio Bastos.


Mal Secreto .
Raimundo Correia




Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Cruzes
Augusto Sérgio Bastos


Cruzes são braços magros
Braços que nunca se fecham
Braços que nunca se tocam

Vigiam do alto do morro
Acolhem na torre da igreja
Espantam no milharal

Alguns carregam às costas
A outros servem de culto
Que a elas pedem socorro

Com esses vão para o túmulo.




Obs: Não resisto dizer que reparei, na capa, tratar-se de uma edição impressa pela imprensa oficial. Pensei logo que a imprensa oficial seria a do Estado do Rio de Janeiro. Não mesmo. É a do governo de São Paulo que faz imprimir a coleção. Alguma surpresa nisso? ...

12 de agosto de 2011

DETALHES DE UM CRIME

A polícia afasta a hipótese de um crime passional no caso de assassinato da juíza Patrícia Acioli.
A juíza não tinha escolta policial.
- Os pedidos de escolta, disse o ex-presidente do Tribunal de Justiça, Luis Sveiter, são analisados pela diretoria de segurança do TJ. Na minha gestão, não houve nenhum pedido de escolta para a juíza. O que me consta é que ela preferia a segurança do próprio marido, que era policial militar. Como assim, preferia?
Um marido servindo de escolta? As notícias mostram: o amante de hoje é o matador de amanhã. A justiça não tem autonomia para decidir a quem deve proteger?
Um juiz, e mais ainda uma juíza tem noção do que o crime prepara enquanto ela manda bandidos para a cadeia? O marido, policial militar, não temia que ela sofresse algum tipo de atentado? Quanta calma nessa família! Quanta confiança na lei!
O fato é que a juíza chegou em casa na madrugada, numa região deserta, sem a companhia do marido, que em princípio seria a sua escolta.
Onde estava ele? E quem sabia a que horas ela chegaria?
E se os bandidos já estavam esperando, conforme disse um porteiro que observou a movimentação, por que não tomou providências?
Fico pensando no que leva uma juíza a casar com um policial.
Quem mexe em facções, nunca sabe o que irá encontrar.
A polícia está ocupadíssima. Depois do menino morto pela polícia, do seqüestro do ônibus e da matéria abordando o governo como quadrilha, vamos ver o que nos espera.
Já a juíza, não espera mais nada.
Se é essa a segurança para os juízes, imaginem o que pode esperar o povo miúdo que labuta nas ruas para garantir a sobrevivência do dia seguinte.


E outra: a juíza estaria numa lista de 12 marcados para morrer. O crime será desvendado antes ou depois da morte dos próximos? O nome sai no sorteio da Caixa Federal?


Tudo o que era impossível agora é previsivel.




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6 de agosto de 2011

DEFESAS EM BAIXA

Depois de dois meses, sendo que o último praticamente incomunicável, transportada agora para Piratininga, região oceânica de Niteroi, (de quem o governo solapou a dignidade, depois da fusão do Estado do Rio de Janeiro e Guanabara), eis que apareço, ainda confusa frente aos meios de comunicação, depois de tanto tempo de convívio com o simples.

Abro um parêntese para justificar a expressão "solapou a dignidade" que se usava muito nos discursos do passado e que era considerado de grande efeito porque ninguém sabia o que era "solapou" e poucos sabiam o que era "dignidade". Mas o palanque, os correligionários, o talento para o assombro funcionavam que era uma beleza.

Volto à pauta:

Demorei a ter televisão, mas foi o que veio primeiro. Até esse momento eu e Sócrates, o gato que me acompanha, vivemos uma vida absolutamente frugal, distante de aparelhos ruídos e conflitos. Uma sensação de quase não pertencer ao planeta. Luas auroras estrelas surpreendentes, pendurar o tapete, quarar o guardanapo, molhar as plantas, colher os côcos que caem como um dia caíram as nozes e noutros tempos floriram os maracujás. Telhados e chão, terra. Mas também pedras, espinhos, insetos. E naturalmente, esperar os técnicos das operadoras. Que não vinham.

Enquanto isso, livros que esperavam a vez. E eu por eles. Chovia, e entre um chá e outro, numa casa de piso frio, eu aguardava por tempos melhores.

E então veio o sol.

Muitas coisas aconteceram nesse tempo, para mim e para vocês. Alguém nasceu alguém casou alguém separou alguém morreu. As prisões estão cheias e o bandido diz: Nós aprendemos com a polícia. Aprendemos as táticas e eles ainda nos trazem a munição. Como é que eu vou sair daqui para comprar armas? Alguém tem que trazer. A guerra se intensifica. Há sempre uma guerra de extermínio divulgada de forma a que "a justiça se faça". Essa é a nossa guerra. Em outros países elas têm outra forma, mas nunca cessam.


Durante um mês não tive telefone nem estive conectada. Estava mais próxima do caminho das formigas do que dos conflitos mundiais. Querem soluções pacíficas? Aprendam com as formigas. Mas eis que me surpreendo com a publicação dos princípios editoriais das Organizações Globo. Terão alguma coisa a ver com a fase infeliz do Governador Sérgio Cabral, que também necessita de um código de ética por escrito? Será um tempo de desculpas?

Do nada, sem ninguém esperar ou exigir, as Organizações Globo divulgam os seus princípios editoriais, que deixam perplexos aqueles que, como eu, consideram que se trata de uma organização criminosa responsável pela divulgação de programas que deterioraram a educação, a cultura e o comportamento dos brasileiros, em que pese ter levado a cabo projetos de "recuperação" de crianças e áreas carentes.

Pelo que sei, as Organizações Globo sempre estiveram ao lado do poder, e o poder sempre se interessou em mascarar a educação, fingindo que faz sem fazer. Fazem parte da burrificação Xuxa, Trapalhões e, mais modernamente, BBBs.


Será que preparam uma defesa já pensando em que um dia a casa cai, como ensaia cair, por exemplo, (e antes da Copa), o castelo do Governador? Mistério. Alguma coisa há que não me contaram.
E falando em defesa, mais uma que caiu: a de Nelson Jobim. Deve ser mesmo uma fase astral propícia a quedas.




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