9 de outubro de 2010

ABORTO HOMOSSEXUALISMO DROGAS

É assunto demais para uma simples postagem? Não mesmo, é tudo a mesma coisa. Tudo tem a ver com a liberdade individual, aquilo que a pessoa pode escolher ser ou fazer sem que ninguém tenha nada a ver com isso.

Há um filme francês em cartaz "Le refuge" em que a personagem, viciada em heroína, descobre que está grávida. O médico lhe diz que ela pode escolher entre ter ou não ter o bebê, mas que receberá os cuidados necessários, seja qual for a sua escolha. E é assim que deve ser. À mulher cabe decidir se quer ou não o filho. E aos médicos cabe acatar a decisão. Quanto ao governo, só tem que dotar o sistema de saúde de modo a atender a todos. O resto é conversa. Como já se viu, não é mais possível ignorar o número de mulheres que morrem por falta de cuidados médicos quando querem interromper a gravidez.

Melhor que não o fizessem, que nem pensassem em fazê-lo, mas se elas consideram que não podem criar os filhos ou não se consideram aptas para serem mães, não há lei que as faça desistir de interromper a gravidez. Morrem por isso. Nem se dão conta, mas morrem pela defesa de uma liberdade individual com a qual já nasceram e ninguém - ninguém - tem o direito de usurpar. É uma morte miúda, solitária, que acontece em quartinhos escuros, em clínicas infectas onde se esvaem com sangue quantas esperanças.

A mesma coisa acontece com os usuários de drogas. Quanto maior a repressão, mais aumenta o número de pessoas que usam drogas e não querem deixar de usar. O governo, ao invés de organizar o comércio, patrocina a guerra.
Evidente que sempre há os que se dão mal, como no caso dos abortos. Mas esses casos devem ser tratados da mesma maneira. A saúde de cada pessoa deve ser defendida, e não os pretensos valores morais, os interesses imorais e os julgamentos religiosos. Se o padre ou o pastor acham que a mulher deve ter o filho que não quer, eles que cuidem. (embora isso talvez represente um risco maior para a criança).
Será que a falta de cuidados com o aborto tem a ver com a repressão às drogas? Afinal, as mortes maternas são quase sempre entre pobres. Também os presos (e mortos) em virtude do combate às drogas são na grande maioria pobres. Será paranóia? Mas é muita coincidência não é?

E o homossexualismo? O homossexualismo também é uma escolha indvidual, a despeito do que digam católicos ferrenhos ou evangélicos fanáticos. A falsa moral fez com que vivessem muito tempo escondidos e condenados, mas resistiram, lutaram, muitos morreram. Agora estão livres, pelo menos nas grandes cidades, embora exista um homofóbico em cada esquina. Mas esses não se atrevem como se atreviam antes. Os homossexuais são bem sucedidos, fazem paradas alegres, as famílias levam as crianças, o ramo hoteleiro exulta. Houve avanços. O problema é que as lutas específicas não ajudam as outras. E como dizia Simone de Beauvoir (é sempre bom lembrar), Querer-se livre é também querer livres os outros.
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Um comentário:

  1. Helena querida,
    acabo de chegar de Fortaleza. Estou feliz e triste. Explico-me.
    Desço do avião e me deparo com teu texto. Sucinto, irrefutável, magnifíco. Texto de uma grande escritora, de uma grande pessoa. Impossível que quem te leia não saiba disso, instantaneamente, sem dúvidas.
    Então sou feliz por ser teu amigo. Pela honra de privar de tua presença, tuas conversas.
    Mas sou triste porque penso: quantos te leram? Como ninguém até agora comentou um texto tão perfeito?
    Sei que tem teus leitores e fãs (eu, um deles. Mas quantos são? Duzentos? Trezentos? Quinhentos? Mil? Poucos, muito poucos, pois deverias ser lida por milhões. Mas sabemos que não é assim. Milhões ouvem Rebolation, milhões leem livros de auto-ajuda que têm a profundidade de uma poça d'água. Seca.
    Hoje, no mercado municipal de Fortaleza encontrei uma mulher cega que cantava forró e tocava triângulo. Acompanhada de um cego na sanfona e um velho no tambor. Eles tocavam sem parar e a música era grandiosa, magnífíca, vinda do fundo da alma, os arranjos sensacionais e aqueles três ali, cantando para meia dúzia (e vendendo seus cds a cinco reais, claro que eu comprei) o que deveria arrebatar multidões.
    Mas como você sabe as multidões ouvem Rebolation e Cláudia Leite. E leem Paulo Coelho. E acham o máximo.
    E assim sigo triste, pois não poderia ser de outra forma.
    Mas talvez isso não importe. Afinal, a arte é maior, muito maior que nossas tristezas e alegrias mesquinhas.
    Talvez seja melhor assim, pois é assim que se comprova a força do artista. Pelo talento. Pela perseverança. Escrevendo para meia dúzia de leitores. Cantando para outros tantos gatos pingados. Mas gatos que, posso garantir, terão em suas sete vidas a missão de reconhecer e mostrar ao mundo o que é ARTE.
    Beijo do teu sempre fã,

    Victor Colonna

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