31 de dezembro de 2010

QUE VENHA 2011


Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave. Ou uma bandeira. Enfim, cá estou outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo. (José Saramago)
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Esperei até o último momento para desejar a todos, principalmente a todos os que se lembraram de mim e me acompanharam durante este ano, um Feliz Ano Novo.

Esperei porque queria oferecer-lhes algo novo. Mas depois de tantos novos anos, o que me ocorre é a velha palavra, a mais bonita, a que mais perseguimos e pedimos: esperança. E mais: que não nos abandone, não deixe que o peso dos anos vá apagando a chama tão necessária para continuarmos olhando para o futuro. Se será bom, se não será, isso não vem ao caso. O que importa é que estamos aí, e cada um de nós, de formas diferentes, enfrentamos nosso próprio destino.

São as mesmas as perguntas e indecifráveis as respostas. A velha palavra é, todos os anos, a mais nova, a mais capaz de nos fazer juntar forças para enfrentar desacertos, fatalidades e espantos.
Nunca contamos se durante o ano passamos mais ou menos contentes. Mais indignados do que entediados. Mais orgulhosos do que simples. Também não interessa. Passou. Agora é olhar o que vem por aí, e não é novidade para ninguém as palavras do poeta: "O primeiro amor passou, o segundo amor passou, mas o coração continua". A poesia sempre estará aí para nos salvar. E com ela estamos prontos.
Como Corinha, por exemplo, que já deixa o ano para trás e se prepara para quando o Carnaval chegar.
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20 de dezembro de 2010

NATAL

Que pode uma criatura senão entre criaturas, dar espaço ao poeta para falar sobre o Natal?
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NATAL

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Fernando Pessoa


Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade

Nem veio nem se foi. O Erro mudou.

Temos agora uma outra Eternidade,

E era sempre melhor o que passou.



Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.

Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.

Um novo Deus é só uma palavra.

Não procures nem creias: tudo é oculto.







O poema caiu em minhas mãos há poucos dias. Guardei-o, já aberto, para hoje, para dedicá-lo aos leitores desse blog que me permitiu, afinal, retornar à crônica, gênero a que me dediquei nos antigos anos da minha juventude.

Para a crônica nunca falta assunto. As coisas estão acontecendo o tempo inteiro, o mundo está em ebulição. Mas a maravilha é que o cronista pode escever sobre outra coisa, uma sombra que viu na parede ao cair da tarde. A janela envidraçada e uma roseira que tremia. Da rua vinha uma luz rosa, depois da chuva.

Mas é Natal, e ninguém consegue fingir que não é. Que posso dizer-lhes? Ritos e mitos. Acreditar ou não. Tudo é difícil. Mais difícil do que ser é crer. Mas sou uma voz anônima em relação ao mundo. Tenho leitores, é verdade, isso nos faz um mundo. Mas estamos inseridos em outro. E na hora da decisão, qualquer decisão, estamos sempre sós. Não sabemos bem no que isso vai dar, mas a dúvida é antiga e, ao que parece, não tem resposta.
Por mim, o mundo é esse corpo que carrego para todo o lado, essa alma tantas vezes esquiva, esquisita como eu, que me sacode todo o dia. Acordo e vejo: estou viva. E então vou viver. Firmeza ou insegurança, bom ânimo ou espírito derrotado. Todo o dia a mesma luta, alguma raiva, alguma ternura. E sempre as dúvidas, as decepções. A traição.
Mas é como aprendemos. Na porrada. Nada nos ensina a felicidade que passa num átimo e dizemos, perplexos: é ela. Erguemos o braço, já se foi.

O mundo somos nós, eu com o meu corpo até o fim, você com o seu. Caminhamos. Caminharemos até que se extingam os dias. Depois virão outros dias. E nós? Vá saber. Tudo é oculto.

Do chão, olho para o alto e pergunto. Quem responde é Gonzaguinha, embora também não possa confirmar.

"A vida poderia ser bem melhor e será,

mas isso não impede que eu repita:

é bonita, é bonita e é bonita."
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14 de dezembro de 2010

ALDYR GARCIA SCHLEE - FATOS LITERÁRIOS




Todo o mundo sabe que o Rio Grande do Sul tem vida própria, em matéria de literatura. E há quem pense que poderia bastar-se também em outras áreas. Mas isso já é subversão.
O movimento em torno da produção literária das terras gaúchas foi a solução para a dificuldade de penetração no mercado Rio-São Paulo, estados que sempre cuidaram de beneficiar aos seus, como aliás continuam. Vai daí que nomes importantes da literatura se mantêm desconhecidos do grande público (falo em grande público mas quero dizer público possível), mas conhecidíssimos por lá.
O Rio Grande do Sul, que já tem a maior e mais antiga Feira do Livro do Brasil, também sedia o maior evento literário nacional, a Jornada de Literatura de Passo Fundo, que até onde eu sei oferece o maior prêmio literário em dinheiro ao melhor romance em língua portuguesa.

Em 2003 o Grupo RBS, em parceria com o Banrisul e o Governo do Estado instituiu o prêmio FATO LITERÁRIO, e anualmente a Secretaria de Cultura do Estado outorga o Prêmo Açorianos de Literatura, um prêmio de bastante prestígio. No mínimo, um bom exemplo.

Isso é para dizer que no espaço de menos de um mês o escritor Aldyr Garcia Schlee, um dos melhores escritores brasileiros que conheço, recebeu o prêmio Fato Literário e agora, conforme soube, também o Prêmio Açorianos na categoria contos pelo seu extraordinário livro OS LIMITES DO IMPOSSÍVEL - contos gardelianos. Aliás, é a quarta vez que recebe o prêmio Açorianos. E neste ano não podia ser diferente, uma vez que o livro é imbatível.

Escrevi sobre Schlee por ocasião do lançamento d´Os Limites do Impossível. E ainda nem tinha lido o livro. O que li depois foi uma obra excepcional, que nasce de tempos em tempos, flor raríssima; que surpreende, comove, extasia. O artista pode mudar o tempo, o cenário, os fatos. Pode levar o leitor a pensar que ele também é parte da criação, que o sentimento, incorporado à obra, eleva-o à condição de criador. Só um apaixonado pela linguagem, um apaixonado pelo ofício, um incansável e predestinado escritor em sentido amplo pode fazer isso. Nada de invenções de marketing, nada de embromações. Arte pura, trabalho, paixão.

Cumprimentar é pouco. Louvo a existência de Schlee - vida e obra. Porque também a vida que leva é um exercício que o entusiasma, que diz respeito à família, aos amigos, a tantas coisas pelas quais se interessa e discorre com absoluto domínio, sempre com humor.

Espero que venha ao Rio lançar o premiadíssimo livro. É preciso que venha e que os brasileiros - todos - se ufanem do escritor que dizemos nosso, brasileiro, mas que pertence a um universo maior, que somos eu e você, na relação íntima que se estabelece na leitura, no encantamento que se instaura a partir da percepção, via linguagem, do sentimento do mundo.
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Obs: Os limites do impossível foi editado pela ARdotempo, que também acaba de lançar, do autor, DON FRUTOS - romance sobre a vida do caudilho Fructuoso Rivera, presidente da República Oriental do Uruguai em duas oportunidades históricas e indicado a um terceiro mandato em triunvirato, num momento preciso e pontual: cerca de um ano inteiro de vida, o último de sua jornada, vivido em Jaguarão, no sul extremo do Brasil e permeado pelas lembranças sobre os inúmeros episódios de sua espantosa vida de aventuras políticas, amorosas, militares e de barroca construção de um novo país. Frutos Rivera, um dos libertadores da América. Um homem do pampa que assomou à presidência do Uruguai e incluiu-se como um dos fundadores da nova república, entre impérios e potências internacionais. Foi escrito em quatro anos, lastreado num pesquisa exaustiva ao longo de 45 anos, em bibliotecas e arquivos nacionais, no Uruguai e no Brasil.

http://ardotempo.blogs.sapo.pt/

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7 de dezembro de 2010

ELES NÃO PARAM AS LOIRAS

Fui a Manguinhos para ver se conseguia alguma coisa. Queria tirar uma foto ao lado dos tanques, mas os soldados estavam com cara de maus. Andei mais um pouco, e já pertinho achei quem vendesse. Agora é dar um tempo. Logo o esquema vai mudar e a gente vai saber.
Peguei o bagulho e ainda rolou uma carona. Tudo firmeza.

Mas você não tem medo?
Tenho não, eles não param as loiras.


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6 de dezembro de 2010

A PAZ, NEM QUE SEJA A PONTAPÉS.

Tchello d´Barros
http://www.tchellodbarros-poesiavisual.blogspot.com/



A gente anda para cá e para lá. O Brasil, vocês sabem, é grande. Quanta extensão de terra! Quanta plantação! É do tamanho do Brasil que vem essa vocação para o cultivo: arroz, café, erva-mate, laranja, milho, todos os chás invejados pelo mundo afora. Cada um faz bem para uma coisa. Nada não presta. Tudo é aproveitável. E já está aí. É só a água molhar. Como é grande o Brasil, e como é lindo! Alguém já viu uma plantação de café? Alguém já viu uma plantação de maconha? E de laranja? Culturas, apenas isso, culturas. Para quem gosta de café, maconha ou laranja. Só tem uma diferença: quem gosta de maconha se dá mal. É perseguido. É proibido.

A invasão no Complexo do Alemão já apreendeu 36 toneladas de maconha. (Pelo menos é o que nos contam). E aí essas 36 toneladas de dinheiro são queimadas nos fornos da CSN. Não é a primeira vez. Dessa vez já não tivemos Ministro pagando o mico, mas a coisa continua.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” e à “RedeTV!” que vai sugerir à presidente eleita, Dilma Rousseff, uma discussão internacional sobre a legalização das drogas leves. Segundo Cabral, o tema tem que ser levado a fóruns internacionais.

“Sou a favor da discussão sobre a legalização, mas num plano internacional é que isso tem que se dar. Não adianta eu, governador de estado, levar esse tema. Isso tem que ser discutido na ONU (Organização das Nações Unidas), no G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo)”, disse Cabral.

Dessa maneira o Governador Sérgio Cabral se safa de tomar a frente e fazer o gol. Passa a bola e, para os abolicionistas, posa de simpatizante. Mas nos maconheiros - polícia. Só Deus sabe por que mais passarão os moradores das favelas com esse estado de guerra em que a polícia pode entrar quando quiser, olhar o que quiser, fazer o que quiser. Suspeitos antes do crime. Criminosos sem defesa. Na hora morta da noite, quem se levanta para acudir o vizinho? Alguém sabe o que é ouvir o torturado e não poder fazer nada para não dançar? As mulheres, principalmente as mulheres, sabem. No outro dia é que são elas. O choro, a humilhação dos mais fracos.

A novidade vem por conta do editorial do Globo que, se eu li direito, é, agora oficialmente, a favor da despenalização. Uma outra opinião é a do Coronel da PM, na reserva, Milton Corrêa da Costa, que acha que legalizar é um tiro pela culatra e pergunta: se a política de repressão não deu certo, qual é a garantia de que uma política de legalização dará? Ora, isso não sabemos e não saberemos sem arriscar, desde que esta experiência venha bastante discutida, bastante estudada, na intenção maior e constitucional de garantia (aí sim é preciso) dos direitos individuais. E é só não vir armada que já está bom. Ninguém quer mais guerra. O coronel também cita a Presidente Dilma Roussef ao ser indagada, tempos atrás, sobre a descriminalização das drogas: "Descriminalização de drogas é um tiro no pé. Num país com 50 milhões de jovens entre 15 e 19 anos é complicado."

Complicado? Pode ser. Mas o que fazer se esses jovens querem ter outras experiências, se não acreditam mais nas histórias que lhes contaram? Matá-los é menos descomplicado do que orientá-los?

Também foi o Globo que me revelou, na edição de hoje, A Conexão Alemão-Paraguai com o advento de um fantástico personagem chamado Marcelinho Niterói. Atenção José Padilha. Quero um filme com Marcelinho Niterói para ontem.

Já o Sr. Carlos Werneck, que se diz empresário, escreve na coluna de opinião dizendo que o pontapé para a recuperação da confiança e admiração do carioca na política já começou. Entre lágrimas e fortes emoções acompanhei suas impressões sobre as meigas manifestações de moradores saudando a ação da polícia. Há outras experiências, mas sobre essas o senhor empresário não falou.

Também quero deixar aqui o meu bilhetinho às forças de ocupação: LEGALIZAR É LIBERTAR. Não existe liberdade monitorada. E os pais sabem disso muito bem.

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27 de novembro de 2010

A MAIORIA É BURRA

Os militares também revistam carros e até crianças. No momento, não há confrontos na região. O comércio na Penha está aberto, e o clima é de aparente tranquilidade. No início da manhã, traficantes trocaram tiros com militares.

Assim começa o sábado no Rio de Janeiro, onde o sol não quer nem espiar.
Assim seguimos nós prisioneiros das nossas escolhas. A maioria acha que Sérgio Cabral é o melhor para governar o Rio? Lula apoiou Sérgio Cabral. É a maioria, certo?

Pois essa guerra não tem fim. A maioria apóia. A maioria não sabe o que faz. A maioria se queixa dos impostos mas não se importa que eles sirvam para matar e prender. A maioria não sabe a quem serve o tráfico.
Nelson Rodrigues disse um dia que "A unanimidade é burra". E estava certíssimo. Que me permita avançar dizendo que a maioria também é burra quando pensa que só há uma solução para tudo. Justamente por isso é burra.
Há outras, mas a maioria ignora porque não foi educada para pensar com a própria cabeça. Fica gravando as mensagens massacrantes ou subliminares do poder constituído. Aprende só um pouquinho.
Há outras soluções, mas nem se fala nelas. As autoridades militares, os "consultores de segurança", os estrategistas na arte de matar discutem com aquele ar de quem sabe tudo. Mas as crianças estão sendo revistadas. Jamais serão crianças de verdade. O olhar amoroso, o alimento, a possibilidade de descobrir o mundo em suas inesgotáveis atrações. Piscinas para a população pobre, mas o pobre não pode entrar. Quer jogar tênis? Tênis é esporte de burguês, vai jogar uma pelada, otário.
Hoje é sábado, amanhã é domingo. Vinicius nem imaginava.
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26 de novembro de 2010

A QUEM INTERESSA A GUERRA?

Cheguei de São Paulo toda lampeira, entusiasmada com a intensa movimentação literária, mas a situação no Rio conseguiu esmorecer esse entusiasmo. Não há entusiasmo que resista aos transtornos e tragédias da guerra. Tragédias pequenas, pessoais, de pequena repercussão. Filhos perdidos, vidas marcadas.

Os arrastões freqüentes em vários pontos da cidade já surgiam como resultado da política de "pacificação" das favelas cariocas, onde os pobres vivem acuados, entregues à lei do mais forte, seja polícia ou bandido.
Seria uma ingenuidade pensar que depois de perder mercado os traficantes não fossem buscar outras fontes. Aliás, se não fosse contra a lei isso tudo seria chamado de "empreendedorismo".

A televisão, o governo, grande parte da população apóia as ações belicistas e mostrou isso nas urnas, mas eu sigo pensando que ante a impossibilidade de impedir o avanço das drogas (a todo instante uma droga é inventada) a única solução pacífica é legalizá-las, e não fazê-lo, se não é burrice, é puro interesse pelo dinheiro (que não é pouco), que sustenta a corrupção.
A legalização seria o verdadeiro golpe no reinado do tráfico. É claro que não impediria o crime, mas certamente a lei serviria para organizar o mercado, captar recursos e investir em educação, que é o de que mais precisamos.

A operação de guerra montada pelas polícias do Rio e as forças armadas desencadeada no dia 25 e considerada um SUCESSO REPRESSIVO, não impediu, no entanto, que cinco veículos fossem incendiados durante a noite e não impedirá que o monstro criado com migalhas por uma sociedade racista e desigual tenha crescido, em força e raiva, e agora jogue seus tentáculos sobre a cidade que o ignorou. Tudo era previsível, e até demorou.

Durante toda a cobertura sobre os episódios assustadores que a cidade enfrenta não se ouviu uma única voz (sim, elas existem e são muitas) falando sobre a possibilidade de um novo modelo de política relativa às drogas. Parece que a guerra também dá barato. Tudo é feito como se confronto, repressão, prisão e morte fossem as únicas soluções para a segurança.
E vocês sabem que a gente colhe o que semeia. Querem guerra, aí está. Quanto estará custando? E quanto valem as vidas já perdidas?

PS. Ao recomendar que a população da Vila Cruzeiro se protegesse nos momentos da ação da polícia o jornalista da Globo disse que as pessoas não ficassem nas janelas e fossem para os corredores das casas.
Corredor, meu filho? Nunca subiu uma favela e não sabe em que espaço habitam os pobres.
Talvez seja isso que assegure uma política equivocada. Tratam do que não conhecem. E quando conhecem, é só teoria.
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16 de novembro de 2010

A INCONSCIÊNCIA BRANCA



Desculpem, mas me causam agonia essas comemorações específicas. Qualquer dia dedicado a qualquer coisa: condição, profissão, homenagem. Agora temos o dia de Zumbi, que é feriado em alguns estados, noutros ainda não. Penso que todo o dia dedicado é fruto de alguma culpa. Daí a questão das cotas, por exemplo.
Há movimentos que emergem vagarosamente, reconheço, mas poucos, muito poucos em relação à infame escravidão.
Fiquei contente, por exemplo, com o curta que assisti num festival no cine Odeon, o IV Encontro de Cinema Negro Brasil África e Caribe. Um dos participantes, Carlos Maia, frequentou uma oficina de poesia que fiz uma ocasião, no morro do Cantagalo. Dos oito que se inscreveram, só ele ficou. E fez um trabalho muito bom, sabe Deus com que sacrifício. Mas é um que se preserva. E os outros?
Há cadeias repletas, imundas, indignas, ocupada principalmente por negros. A chocante campanha institucional para o Censo (alguém viu?); novos quilombos na Bahia (novos!), construídos para que os negros se protejam da polícia (negra).
Soube, e mostro a ação da polícia numa tentativa de remoção na Vila Taboinha, na zona oeste do Rio, na tarde do dia 09 de novembro de 2010. Uma ação cruel e desnecessária, engendrada pelo "choque de ordem" do governo.

http://www.youtube.com/watch?v=R3T9c0fNBP0


Agora, finalmente, descobre-se que o Brasil sofre do maior dos preconceitos, que é o de acreditar que não tem preconceito. Somos preconceituosos, sim. E muito mais do que pensávamos. E pior: estamos nos tornando ainda mais. A raiva está aumentando, as pessoas estão mais agressivas, o medo faz com que tenhamos reações que humilham os nossos diferentes. Os arrastões diários, as explosões que se sucedem aqui e ali, entre crianças ou adolescentes, nas brigas de trânsito, na vida doméstica. Onde quer que se apresente um motivo, por mínimo que seja, ou mesmo sem motivo algum, alguém pode agir de maneira brutal, como nunca pensamos que seria possível.


Relutei em falar no fato que mais me impressionou nos últimos tempos: a cabeça de um homem jogada no meio de uma rua movimentada de Madureira. A cabeça de um homem!


Já não esperamos a invasão dos bárbaros, como no livro de Cotzee. Eles já chegaram, estão em todas a parte e crescem ante o nosso medo. Se bobear, seremos as próximas vítimas, ou quem sabe faremos parte deles. A extrema violência é o resultado da extrema violência. Já sabíamos no que ia dar. Apenas aguardávamos.


Pela consciência sem cor, deixo aqui um poema de 2001. O que mais posso fazer?



pena


122 anos de abolição e não estamos muito longe das práticas anteriores os negros carregam nossas cadeiras recolhem nosso lixo varrem nossa sujeira trazem mate mate-limão coca light se queremos trazem também a preta ou a branca se queremos se preferimos matar seguir matando eles nos trazem as armas e fazem o serviço sujo e se por acaso alguma coisa não der certo se por azar ou se Deus não permitir escapar do flagrante do inquérito do esquema eles vão mais uma vez pelo crime cometido por nós cumprir a pena 122 anos.


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11 de novembro de 2010

MOVIMENTO LITERÁRIO: UMA PROMESSA?

Tenho observado uma grande movimentação em torno da literatura nos últimos tempos. Há vários eventos literários acontecendo quase ao mesmo tempo, o que faz supor uma nova onda para a literatura.


Queixam-se os poetas de que a poesia não tem público, e de fato quem freqüenta com mais assiduidade os eventos verifica que o público é sempre de poetas, e dependendo dos lugares, os mesmos.


Por isso resolvi criar o blog do panorama da palavra, que não substitui o jornal, mas que pretende oferecer, num tom de reportagem, informações sobre semelhanças, diferenças, participações e organização dos encontros literários.


Claro que os livros merecerão lugar, bem como os poetas e poemas, além dos acontecimentos. Assim poderei responder com mais agilidade àqueles que buscam divulgação do seu trabalho ou do alheio que mereça.

Mas para isso conto com você, caro leitor, que já me acompanha neste blog. Não poderei estar em todos os lugares e não quero que minha opinião (somente ela), sirva para informar o que é, quem é, como é, onde e quando.

Assim como o blog, também eu estou sempre em processo.


Combinados assim, veja lá: http://www.panoramadapalavra.blogspot.com/
e me ajude na empreitada que, sabemos, não é fácil.

Esta postagem é madrinha do blog que nasce, e para dar-lhe força chamo um poeta imbatível:

Fernando Pessoa.


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
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3 de novembro de 2010

O OUTRO LADO DO DIA



Pronto. Acabou-se a disputa. Dilma Roussef venceu e foram inaugurados novos mortos no feriado de Finados.
A experiência não me permite mais grandes arroubos em se tratando de política, embora eu ainda sinta o gosto efêmero das vitórias. As decepções sempre caminham juntas.
Vi algumas entrevistas, e percebi que a capa da candidata foi afrouxada. Digamos que foi retirado o espartilho. Está menos tensa, e encara com segurança os novos dias. O equilíbrio emocional a ser mantido numa campanha é tarefa difícil. Ainda mais num jogo tão pesado. E mais a televisão com suas exigências
Dilma, digam o que disserem, é uma mulher admirável. Não domina a oratória, como Marina, mas mesmo assim ela se saiu bem, ninguém precisa ser bom em tudo.
Nunca se distanciou dos objetivos a que se propôs ainda na juventude e aprendeu na luta por uma ideologia um caminho a seguir. Foi secretária de dois partidos diferentes no Rio Grande do Sul. Convidada por Alceu Collares, do PDT, para o secretariado do município e depois do governo do Estado, permaneceu com Olívio Dutra, do PT. A competência fica evidente aí, quando duas cabeças diferentes em partidos diferentes, reconhecem numa terceira pessoa condições de tê-la no governo na certeza da honestidade e do respeito ao serviço público. Yeda Crusius não tinha sido inventada.
Depois, já em Brasília, disseram que ela era mão de ferro, que o baixo clero (o que estará armando nesse momento?) a odiava porque ela não recebia ninguém. Tinha suas razões.
Foi o ex-marido, o ex-deputado Carlos Araújo, a testemunha mais marcante que falou sobre ela. Disse que em casa não havia soco na mesa. Como ser delicada com os canalhas?
Não há nada que a desabone, no público ou no privado. As alianças fazem parte da política, e também do mundo dos negócios. Não sejamos inocentes.
Dilma é de Minas, passou por São Paulo, aprendeu no Rio Grande do Sul? Nada disso importa muito. Importa que é competente, é mulher e agora é Presidente. Uma brasileira. Um quadro, para falar no jargão, que cresceu na militância por uma ideologia.
Isso, meus amigos, não é para qualquer um, ou uma. O dedo do destino não aponta para a classe operária. Aponta para Lula. Não aponta para um negro, mas para Barack Obama. E nem para a mulher brasileira. Escolhe Dilma.
O que será daqui para a frente? Alguma coisa vai mudar? Tudo muda todos os dias.
Será para melhor? O que é o melhor? São 190 milhões de respostas. Quem poderá escutá-las?...
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28 de outubro de 2010

FERREIRA GULLAR - ELEIÇÕES POESIA E DROGAS

Todo o mundo já deve ter lido a entrevista de Ferreira Gullar abrindo seu voto para Serra e a inevitável repercussão.

Dediquei-me ler os comentários sobre a entrevista em vários blogs que a publicaram e acho que o povo está sendo muito severo com o poeta.

Os adjetivos usados são os piores - aqueles que a gente usa quando quer desmoralizar o desafeto. Velho é o mais usado, querendo dizer com isso que deve estar gagá, ou acometido de alguma doença que lhe altere o raciocínio, embora ele esteja, como diz, aos 80 anos, gozando da mais perfeita saúde, e recebendo prêmios.

Não se trata aqui de defendê-lo porque é poeta. Trata-se de compreender que uma pessoa muda de posição e tem direito de mudar. Equivoca-se com o que quer se equivocar. E até se destempera, se lhe dá na telha.

Penso que Gullar e sua poesia foram importantes para o Brasil num determinado contexto histórico. Passado isso, Gullar teve que cuidar da vida, e seguiu em frente. Foi ganhando espaço até chegar a um momento em que foi considerado o mais importante poeta vivo do Brasil - o que seu passado de luta muito ajudou. Mas foi considerado por quem? Nunca se sabe. Pela mídia? Pelo universo de leitores de poesia?
E então, o que aconteceu? Mudou de turma. Ficou livre para ser (sempre foi) amigo de Sarney (deve ter sido Sarney quem lhe disse que no nordeste não existem pobres, conforme está na entrevista), e é colunista da Folha. (Algumas idéias expressas na entrevista parecem vir de editoriais). Não é por nada que Jabor é lembrado junto, quando se trata de dar exemplo de quem mudou de idéia.

Mario Vargas Llosa acabou de ganhar o Nobel e não vi ninguém se insurgindo contra o fato porque ele seja de direita, seja lá o que isso for, mas chamemos de direita o reacionarismo, a rejeição ao novo, o medo dos avanços. Talvez porque Vargas Llosa seja, mundialmente, considerado um escritor enorme. Não sei se Gullar é tão grande como poeta.

Além de votar no Serra, Gullar é contra a legalização das drogas. Tem seus motivos, mas são motivos particulares, e considero no mínimo egoísta querer impedir que uma multidão de usuários deixe de ser perseguida pela polícia porque em algum momento ele mesmo, ou qualquer pessoa com a mesma opinião, precisou lidar com problemas decorrentes. É o mesmo caso de alguns psicólogos e afins que são contra as drogas porque recebem em seus consultórios muitos dependentes. Ora, o universo dos consultórios é mínimo em relação ao número de usuários. E é melhor frequentar consultórios do que cadeias, não é mesmo? Até mesmo para os psicólogos.

Dito isso, considero que a ofensa não é a melhor política para o período que antecede as eleições; que Gullar, se não é nosso maior poeta vivo, ao menos está vivo e é uma voz dissonante. A maioria dos poetas e intelectuais está fora do debate. No máximo, assina listas. E afinal, sempre fui contra o pensamento único.

Quanto a mim, votarei por minha tia, que morreu querendo votar em Dilma. Farei isso por ela porque nela, sim, eu acreditava. Votarei na mulher que Dilma é, com seu passado de militante e sua coragem de enfrentar tantas forças num universo de homens - coisa difícil.

Espero, no entanto, que reveja muitas posições em relação às quais se atrapalhou durante a campanha, imagino que em virtude das abomináveis alianças. De resto, é esperar.
E rezar.



Crente
eu também sou.
A poesia é minha religião.
O sol, meu deus.
A maconha, minha hóstia.
O silêncio, minha igreja.
E meu corpo,
altar para o milagre cotidiano

Dúvidas eu só tenho
sobre quem não duvida

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21 de outubro de 2010

MÉXICO MACONHA E TOUPEIRAS


O que pensarão os nossos pósteros ao verem uma foto como essa? Poderão compreender que o México, que em 2010 ainda tinha 23 milhões de habitantes em estado de fome crônica, queimasse 134 toneladas de uma planta que valia, por baixo, o equivalente a 560 milhões de reais?

Isso me lembra Fahrenheit 451, o filme de Truffaut baseado no romance de Ray Bradbury em que opiniões próprias eram proibidas e para isso queimavam-se os livros - tudo controlado pela televisão. Mas as pessoas resistem ao decorar livros inteiros.
Houve outros momentos de controle de leitura (e idéias) ao longo da história. Sempre há alguém querendo impor o pensamento único.

Ora, combater as drogas equivale a combater opiniões próprias. Afinal, é preciso sempre perseguir e, se possível, matar alguém, para que as armas tenham alguma utilidade. E como nesse negócio meteram-se os pobres, melhor ainda. Já se faz uma limpeza étnica. Fora ou dentro dos porões.
Do ponto de vista ambiental, nem se fala. O crime é ainda maior. Os governos cavam a terra, querem minérios (a Vale que o diga), cavam o mar, querem petróleo (A Petrobras não tem limites) e agora o pré-sal. Mudam o curso das águas, gastam horrores com os equipamentos e a operacionalização (bem menos com os salários). Cavam para buscar minério (aí estão os mineiros chilenos para cujo salvamento deve ter sido gasto mais do que anos de salário). E mesmo com esse custo astronômico, com a destruição brutal do corpo da Terra, que os exploradores explodem, trituram, destroem, corrompem, ainda assim acham que é melhor combater as drogas. E chamam de droga uma plantinha que precisa de sol e água.
Mas governos não podem decepcionar as fábricas de armas. Os lobbies são fortíssimos. Dona Taurus e Dona Rossi não podem parar. Os cursos estão aí. Sempre tem um coronel aloprado para dar os treinamentos. Fora isso tem o exército, a polícia e os bandidos de plantão. Tudo plantado pelo sistema, que o Capitão Nascimento demorou a reconhecer.
Assim são os homens-toupeiras. Quase cegos, preferem se meter nos buracos. Rejeitam, prendem e queimam o que a Terra dá, naturalmente. Mas cavam brutalmente as suas entranhas. Um dia acharão o coração. E ele explodirá em mil pedaços na mão dos torturadores.
Talvez aí o mundo seja outro.
Comecemos com a manchete de um mundo novo:
"Tratado internacional decide a paz mundial e fecha as portas de todas as fábricas de armas".
Pensam que estou viajando? Não mesmo.
No dia 2 de novembro, na Califórnia, será votada em plebiscito a Proposição 19 para decidir sobre a legalização da maconha.
E os Estados Unidos, vocês sabem, sempre foram um ótimo exemplo para os nossos governos.
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19 de outubro de 2010

RAZÃO E OBSCURANTISMO

Esta é uma entrevista que não posso deixar de divulgar porque é tão simples, tão singela, tão evidente do que é o moralismo vigente (no jornalismo!!!) que parece até que não é verdade tudo por que passam, e passarão, os povos submetidos a políticas arbitrárias e ditatoriais que pretendem decidir sobre a vontade inalienável de cada cidadão.
A entrevistada é a Professora Gilberta Acselrad, Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre drogas, Aids e direitos humanos da UFRJ.
A entrevistadora(céus!) é essa senhora que vocês conhecem -- Leilane Neubarth.



http://www.youtube.com/watch?v=J53SNRZgowU


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11 de outubro de 2010

CAPITÃO NASCIMENTO E PIPOCAS


O Capitão Nascimento vem agora como tenente-coronel. Nem quero imaginar as coisas por que passou até chegar até aqui. Ainda não vi o filme, mas lembro de um jovem equivocado, como se pode ser equivocado na juventude. Um iludido, com laivos visionários. E tão ardorosamente destemido.

Wagner Moura faz o personagem. Um embate cruel de criaturas, umas pela sobrevivência no crime, outras pelo equívoco. O Estado mantém pretos e brancos pobres em campos opostos a partir da escolha de submeter ou ser submetido. Na busca pela sobrevivência, a polícia acaba sendo a primeira opção. Salário pouco, mas certo, pra que a miséria não bata à porta. E ainda tem as despesas com celular, etc.

Sempre penso que às vezes o policial encontra um primo, o vizinho, o filho da Dona Didi, o amigo das quebradas. E mata o mano por uma razão que nem é dele.

Espero que os santos todos da Bahia mais a força dos terreiros ajudem aquele fio da terra que venceu nos Rio de Janero. Não é um herói de guerra de verdade. Mas alguma coisa é de verdade?
Vou ver o filme também pelo José Padilha. Um cara bom de filme e de mídia, uma promessa.

Está faceiro, eu vi numa entrevista. E bem merece. Um filme é antes de tudo uma obra de arte, e vocês sabem que um dos elementos essenciais para quem ama o cinema é que ele seja visto em silêncio. (Ah, se me ouvissem os pipocantes de cinema).
As pipocas (sacos enormes!) - um desrespeito aos trabalhadores do cinema, de todos os níveis, além do desrespeito ao vizinho, que pagou a mesma coisa.
Buñuel filmou uma cena em que os convidados saem da sala de jantar, onde estão sentados em vasos sanitários, em volta da mesa, e vão comer, privadamente, num cubículo onde a comida chega sem que se tenha contato com ninguém. Coisa de surrealista. Deu outra. Ninguém pode mais ficar hora e meia sem encher a pança.
Meu amigo, por favor: então um batalhão de gente faz um filme para você, espectador, mobiliza um sem número de equipamentos e trabalhadores, de diretores a carregadores de balde, e você, cidadão, você, um cara inteligente que sabe tudo sobre a invasão cultural que os do norte perpetraram contra nós - você! - come pipocas sobre o Capitão Nascimento? Francamente, assim você desmoraliza a nossa Polícia.


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9 de outubro de 2010

ABORTO HOMOSSEXUALISMO DROGAS

É assunto demais para uma simples postagem? Não mesmo, é tudo a mesma coisa. Tudo tem a ver com a liberdade individual, aquilo que a pessoa pode escolher ser ou fazer sem que ninguém tenha nada a ver com isso.

Há um filme francês em cartaz "Le refuge" em que a personagem, viciada em heroína, descobre que está grávida. O médico lhe diz que ela pode escolher entre ter ou não ter o bebê, mas que receberá os cuidados necessários, seja qual for a sua escolha. E é assim que deve ser. À mulher cabe decidir se quer ou não o filho. E aos médicos cabe acatar a decisão. Quanto ao governo, só tem que dotar o sistema de saúde de modo a atender a todos. O resto é conversa. Como já se viu, não é mais possível ignorar o número de mulheres que morrem por falta de cuidados médicos quando querem interromper a gravidez.

Melhor que não o fizessem, que nem pensassem em fazê-lo, mas se elas consideram que não podem criar os filhos ou não se consideram aptas para serem mães, não há lei que as faça desistir de interromper a gravidez. Morrem por isso. Nem se dão conta, mas morrem pela defesa de uma liberdade individual com a qual já nasceram e ninguém - ninguém - tem o direito de usurpar. É uma morte miúda, solitária, que acontece em quartinhos escuros, em clínicas infectas onde se esvaem com sangue quantas esperanças.

A mesma coisa acontece com os usuários de drogas. Quanto maior a repressão, mais aumenta o número de pessoas que usam drogas e não querem deixar de usar. O governo, ao invés de organizar o comércio, patrocina a guerra.
Evidente que sempre há os que se dão mal, como no caso dos abortos. Mas esses casos devem ser tratados da mesma maneira. A saúde de cada pessoa deve ser defendida, e não os pretensos valores morais, os interesses imorais e os julgamentos religiosos. Se o padre ou o pastor acham que a mulher deve ter o filho que não quer, eles que cuidem. (embora isso talvez represente um risco maior para a criança).
Será que a falta de cuidados com o aborto tem a ver com a repressão às drogas? Afinal, as mortes maternas são quase sempre entre pobres. Também os presos (e mortos) em virtude do combate às drogas são na grande maioria pobres. Será paranóia? Mas é muita coincidência não é?

E o homossexualismo? O homossexualismo também é uma escolha indvidual, a despeito do que digam católicos ferrenhos ou evangélicos fanáticos. A falsa moral fez com que vivessem muito tempo escondidos e condenados, mas resistiram, lutaram, muitos morreram. Agora estão livres, pelo menos nas grandes cidades, embora exista um homofóbico em cada esquina. Mas esses não se atrevem como se atreviam antes. Os homossexuais são bem sucedidos, fazem paradas alegres, as famílias levam as crianças, o ramo hoteleiro exulta. Houve avanços. O problema é que as lutas específicas não ajudam as outras. E como dizia Simone de Beauvoir (é sempre bom lembrar), Querer-se livre é também querer livres os outros.
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7 de outubro de 2010

A POESIA É A ÚNICA SAÍDA PRO NADA

(Lou Viana)


Ontem vi um filme coreano chamado Poesia, apresentado no Festival. Foi o título que me atraiu, claro. Mal consigo assistir a um ou dois filmes do festival, todo o ano. Mas por esse eu fui. E esperei. Eu e uma multidão que aguardava em fila e grande animação. Fiquei pensando como, de repente, um público tão diverso pode ter se interessado por poesia. Bons ventos.
No filme a personagem é uma senhora aposentada que quer, em meio à sua tumultuada vida, escrever um poema. Um, que seja. Ela participa primeiro de aulas, depois de encontros com leitura de poesia no Centro Cultural da cidade. O filme é bonito e triste. As leituras são boas e divertidas.
Não vou contar o filme. Mas poucas vezes tive oportunidade de ver no cinema a poesia pontificando. Fiquei feliz, claro, que alguém tenha pensado nisso e feito um belo trabalho.

Não bastasse, hoje recebo a chamada para a entrevista feita por Selmo Vasconcellos, no blog http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2010/10/lou-viana-entrevista-n-266.html,
que publico abaixo na certeza de que vão gostar de conhecer a grande figura que é Lou Viana e sua poesia essencial, engraçada, desafiadora.


LOU VIANA




PEQUENA BIOGRAFIA

LOU VIANA é graduada em Letras e Psicologia. Tem especialização em Literatura Brasileira e em Literaturas Africanas e Mestrado em Teoria Literária, título da dissertação: "O saber do humor". De 1999 a 2007, participou da comissão editorial do Jornal Panorama e do Poesia Viva (jornais de poesia da cidade do Rio de Janeiro). Publicou: "O céu do lençol" pela Sette Letras em 1996 (nome de autora: Luiza Viana") e "Fina ficção" em 2010 pela Editora da Palavra (nome de autora: Lou Viana). Tem poemas citados no livro de Jomard Muniz de Britto "Atentados Poéticos", Editora Bagaço, Recife, e no artigo de Gustavo Bernardo "O Nominalismo Medieval na Base da Fenomenologia Moderna", do Seminário do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro em 2000.

COMENTÁRIOS SOBRE "O CÉU DO LENÇOL" :

ANTONIO CARLOS SECCHIN: "Luiza Viana retoma com felicidade o veio da escrita epigramática: ' Poesia é a única saída pro nada': humor ferino, amor felino ('nessa carícia de veludo'), em alta voltagem poética.”

MANOEL DE BARROS: “Sua poesia é puro afago para a inteligência e a sensibilidade. Poemas substantivos, sem sestros, enxutos. Sem truques. A pura essência do ser”.

COMENTÁRIOS SOBRE "FINA FICÇÃO":

JOMARD MUNIZ DE BRITTO: "Você não faz nem pretende fazer hai-kais, poema segundo, amor-humor, rumor-urbano porque denega toda a retórica pós-moderna e iluminações da mais finita eternidade".

RITA MOUTINHO: “Gostei muito de seu "Fina ficção" em que mostra muita coerência com toda sua poesia anterior, uma personalidade poética bem definida. Você nos transmite uma enormidade de sentimentos com um mínimo de signos expressivos.Interessante sublinhar como você titula bem, estando os títulos indissoluvelmente ligados com o texto do poema.”

ENTREVISTA

SELMO VASCONCELLOS -Quais as suas outras atividades além de escrever?

LOU VIANA - Tenho grande interesse pela educação de crianças e adolescentes. Realizo oficinas literárias utilizando exercícios teatrais e a leitura de contos ou poemas que levam o sujeito a refletir e a se expressar. Os exercícios teatrais facilitam o surgimento da espontaneidade e da integração entre os membros do grupo.
A essência da proposta é a ênfase no pensar: pensar sobre si, as relações com o outro, com a vida, com o mundo concreto. Busca-se o desenvolvimento da pessoa e a reflexão sobre sua ação no mundo. A leitura do texto literário em grupo, e a conseqüente troca de idéias e respeito à opinião do outro, abre o campo de percepção do sujeito e amplia sua visão de mundo.


SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?

LOU VIANA - Sempre li muito, desde criança. Nessa época, adorava poemas que continham um certo humor, ou muito dramáticos. Era muito sensível ao ritmo dos textos, rimas incomuns e à musicalidade das palavras. O interesse na literatura sempre foi básico em minha vida. Fiz Curso de Letras e dei aulas de Português, sempre buscando despertar o aluno para o texto literário.
Quanto à minha escrita própria, ela surgiu a partir da necessidade de escrever para me compreender, uma espécie de desabafo. Com o passar do tempo ela foi adquirindo concretamente um desenho de poesia, adquirindo um ritmo poético. Foi se condensando: de uma forma dramática povoada de explicações para algo mais sucinto, mais enigmático.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais são seus livros publicados dentro e fora do Brasil?

LOU VIANA - Publiquei "O céu do lençol" (poesia) pela Sette Letras em 1996 e agora, em 2010, "Fina ficção" (também poesia), pela Editora da Palavra - ambas as editoras são do Rio de Janeiro. Pretendo proximamente reeditar "O céu do lençol" e publicar minha dissertação de Mestrado: " Ítalo Calvino e o saber do humor ".

SELMO VASCONCELLOS - Quais os impactos que propiciam atmosferas capazes de produzir poesia?

LOU VIANA - O que posso dizer a partir de minha experiência é que a poesia surge geralmente a partir de um forte apelo emotivo. Porém mesmo quando a poesia se origina mais da determinação da vontade, tem de haver total entrega à escrita - vencer a angústia ao papel em branco - para a produção do poema. Existe também a necessidade de se estar totalmente "distraída", alienada da compulsão repetitiva do cotidiano. Outra coisa importantíssima, que induz à escrita e a seu aprimoramento, é a leitura de bons autores, aqueles com quem a gente se identifica.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que admira?

LOU VIANA - Sempre li e reli a poesia de Fernando Pessoa. O conceito de beleza, para mim, se expressa plenamente na forma poética de João Cabral de Melo Neto. Meus ficcionistas preferidos são Gabriel García Márquez (com o romance "Cem anos de solidão" e seus contos maravilhosos), Machado de Assis e sua ironia reveladora e Dostoiévsky que descortina, de forma dramática, os lados mais sombrios da alma humana. Não posso também deixar de destacar Ítalo Calvino e seu romance "Palomar", que impulsionou minha dissertação de Mestrado sobre o saber do humor.

POEMAS

Todo ser carrega em si
a maldição e a bênção
de existir


Metamorfose

A Clarice Lispector

Me sonhei com asas
acordei bicho rasteiro


Deusmônio

Você é um monstro com asas
Eu, um anjo com garras


Doce trama

A João Cabral

Quero partilhar com alguém
minha vida, labor,
suor e lágrimas

Com o tesão que fervilha
em praça de touros de Espanha

e nas minhas entranhas


Poeta

A vida me
escreve
nas entrelinhas


Auto-retrato

Pernas grossas e varizes
nariz tolo
torto pensamento
algumas próteses

Não sou a maior das maravilhas
nem a pior das hipóteses


Ano 2020

Mais uma mulher
que cede à tentação
de posar vestida


Vôo das letras

A Machado de Assis,
in memoriam

Intelectual tupiniquim
toda a pompa e circunstância

Porque ninguém é de ferro

In: Fina Ficção, Ed.da Palavra, Rio de Janeiro, 2010.

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2 de outubro de 2010

CONTER NÃO É PACIFICAR

Eleições.

O que mais me perturba é que um enorme e significativo número de brasileiros não se dê conta de que o anseio maior para quem vive no território nacional (não era, mas se tornou), que é segurança, vai na contramão da legalização das drogas.

Como é possível que não percebam que o grande número de civis e militares brasileiros mortos tem a ver com a guerra às drogas, que já foram legais e depois passaram a não ser? Por que? E o custo dos armamentos, a venda ilegal, os subornos, as comissões, a corrupção em geral? Mas não é nem isso o mais importante. O importante é que se não houver tráfico, o menino não será seduzido pelo dinheiro rápido e a ascensão (e queda) meteóricas.

Não nos enganemos com ações pacificadoras. A guerra interessa a quem lucra mais. É preciso preservar os ganhos. E as eleições vão passar. Depois virão outros interesses.
E o amor ao dinheiro passa por cima (atirando) de todas as comoções.
Não existe pacificação armada. Pacificação armada é controle, é contenção. A tensão lateja, aumenta o ódio. Mas até quando durará a estratégia? Levaremos quanto tempo mais para desco brir quem mente, e sempre, não importa de que lado sopre o vento?

As crianças ficam muito tempo frente aos computadores, dizem. Mas onde é que as crianças podem ir? Tudo é perigoso, nada mais é maravilhoso.

Há caminhos a trilhar, portanto. A luta por idéias sempre foi a mais difícil. As posições são facilmente mudadas, mas as idéias estão lá, e não se calam. É preciso aprender a reconhecer as velhas mentiras, os momentos em que elas se espalham, as fontes de onde vêm.

Você, que já acredita que a guerra às drogas é apenas um nome falso para a guerra aos pobres, vote em Renato Cinco - 5055
e André Barros - 13551
Ou você também acha que é melhor matar?


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23 de setembro de 2010

PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS


Como não voltar ao assunto que mais se destaca nos jornais? Não estou falando de eleições, mas da guerra às drogas. As eleições passam, a causa da legalização fica.

Pois bem, não posso deixar de refletir que pai e filho presos por plantarem maconha numa cobertura devem estar agora numa pior. No entanto, não fosse a hipocrisia da lei, convenhamos: que grande idéia: primeiro, estão plantando, o que já é ótimo (fazem o contrário da prefeitura, que cortou o que pôde de árvores no Morro da Catacumba); em segundo, produto de altíssima teor de pureza, pelo que se viu da literatura à disposição, da origem das sementes e dos instrumentos para o cultivo; terceiro, se chegassem a oferecer no mercado seria um produto com garantia de qualidade.

Não fosse a hipocrisia da lei, teríamos aí dois empreendedores. No entanto, lá estão eles enquadrados como criminosos, às voltas com a justiça que teima em não olhar para o futuro. Francamente, vocês acham que eles não ganhariam um prêmio do SEBRAE?
Tudo - absolutamente tudo - é uma questão de ponto de vista.


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22 de setembro de 2010

TRÁFICO & PROGRESS0

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias - pátria minha
Tão pobrinha!

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Vinicius de Moraes
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Escritas assim, acompanhadas, as palavras tráfico e progresso parecem incompatíveis. No entanto, também elas fizeram aliança. O combate ao tráfico de drogas traz progresso? Para alguém deve trazer, considerando-se progresso o enriquecimento rápido com consequências letais. Do contrário não seria tão contundente e a ele não seriam oferecidas tantas verbas.

No entanto, considerando progresso como a evolução da experiência humana, nos damos conta de quanto é prejudicado, uma vez que tem origem no preconceito e na força (armada) da autoridade.
Assim como o tráfico de influência, ao tráfico de drogas interessa, nos acertos ao pé do ouvido, os lucros e as comissões. Os danos são as vítimas sem nome. São negros, mulatos e brancos - todos pobres. Almas com frio, como escreve Dante Milano.
Saber o quanto falta esgoto no Brasil nos enche de vergonha. No entanto, na hora de votar, a televisão mostra os funcionários do governo levando as urnas em lanchas. para o eleitor semi-analfabeto, sem dentes e sem esgoto. E ele se sente importante. É o único dia em que ele importa.
Mesmo com as promessas de educação integral de Marina Silva; de saneamento básico, de Dilma ou de 13º para o Bolsa Família, de Serra, não nos iludamos. O combate ao preconceito não está em programa nenhum. E nós ainda estamos nesse pé.
O Brasil pagou a dívida com o FMI. Ninguém respeita um devedor - diz a candidata Dilma Roussef.
É o ponto de vista de quem só vê um tipo de conta.
Há outras contas de que somos credores e não cobramos. Por exemplo, as vítimas da política de combate às drogas, que acatamos, no melhor estilo norte-americano: homicida. Porque combater as drogas significa matar, sistematicamente, os moradores das periferias das grandes cidades, e de quebra quem estiver passando por perto. Mas os pobres são os preferidos. São tantos! E não fazem renda. Dão trabalho. É preciso educá-los e dar-lhes emprego? Mas eles são tantos! Mal sabem digitar uma senha.
O Brasil mudou, é certo. As estradas estão melhores, a comunicação digital é uma mania, a Petrobras é um sucesso? Isso não é progresso.
Progresso é caminhar com soberania, garantindo a cada um a liberdade que já é de cada um, e oferecendo condições de que a Nação evolua igualmente.
E isso, caros amigos, não se faz com armas.
Enquanto perdurar essa situação, não importa o quanto a publicidade (e os bancos) lhes ofereçam condições de ter um belo apartamento, um carro possante e boas aplicações. Você estará sempre sentindo o cheiro do ralo.
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13 de setembro de 2010

CHORO BRASIL


Você pode se indignar com o que acontece por aí. Mas creia, isso não é bom para você.

Você está mais indignado agora ou no tempo em que lhe disseram que não podia mais votar? Lembra quando foi? E durou, não é mesmo? O governo lhe diz: Não vote. E v. obedece (e eu também). O governo lhe diz: Vote em X, e você obedece (e eu também). Ou não. Sempre há os apáticos. Mas os apáticos não ficam furiosos, nem indignados. Talvez estejam certos. Que diferença faz? O mundo vai por si mesmo, independentemente de você ou de mim. A história tem seus ciclos e é preciso que se cumpram. Suportamos a ditadura, mas não temos paciência para a era Lula?

Meu amigo, não chore. Não adianta. O problema não está aí. Afinal, somos nós que sustentamos o sistema. Alguém aí ensaiou a desobediência civil, pregada por Henry Thoreau? Ninguém. É preciso muita coragem. Ninguém quer ir para a cadeia. V. não quer perder "aquilo que conquistou", mas se você não pagar e a mão do governo pegar você, ninguém vai estar nem aí. Só a morte lhe fará justiça. Mas aí, já era, né?

Você suportou Geisel, Médici, Sarney (ai!), e agora não gosta da cara de Dilma? Que coisa é essa? E a cara do Collor, era legal? E isso que nenhum fez sucesso "lá fora". Nem o FHC. Mas o Lula não pode. Por que será? Engraçado isso. Brasileiro adora quem faz sucesso "lá fora", mas não o Lula.

Você não gosta da cara da Dilma, acha que ela parece um mamute e fala mal? Grande coisa. E Bush? E Margareth Tatcher? E aquele diabo de mulher que foi assessora de Bush e eu já esqueci o nome graças a Deus?

Agora mesmo rola uma denúncia feita pela revista Veja. Denúncia? Revista Veja? Pense bem, agüentar uma denúncia da Veja... eu também perco a paciência.

Lula diz para votarmos em Sérgio Cabral. Nem acreditamos no que vemos e ouvimos. Mas Cidinha Campos também diz para votarmos em Jorge Picciani. E Marina diz que está bem votar em Sirkis. Isso é a política. Assim são os negócios. Ninguém é inocente. Todo o mundo é, já sabemos, o eu e suas circunstâncias (Sartre) e também (aprendendo com Saramago) aquilo que não tem nome. Não tem saída.

Portanto, por favor, amigo, não chore. A história é assim mesmo. Console-se. Você não falhou sozinho.

Lembre-se daqueles que ainda estão na marginalidade, mesmo que paguem os mesmos impostos que você, mas ainda assim são perseguidos. Lembre-se daqueles cidadãos que podem, a qualquer momento, por pura distração, sentirem a força da mão (e do achaque) da polícia porque estão fumando um inocente baseado.

Lembre-se de que essa tal democracia ainda demoniza os usuários de maconha, e burramente rechaça (com violência) aquela que poderá ser uma das maiores economias do tal país do futuro.

Agora mesmo, em vários lugares do gigantesco Brasil, movem-se brandamente com a brisa, milhões de pés de maconha que, colhidos, não pagarão imposto, enriquecerão os traficantes e a indústria de armas, as armas matarão os mais pobres e por aí vamos.

Quem ganha?

Por causa disso é que recomendo.

Renato Cinco para Deputado Federal - 5055

André Barros para Deputado Estadual - 13551

11 de setembro de 2010

O QUE HÁ DE NOVÍSSIMO


Há 11 dias cheguei do Recife e situações da vida privada (sim, eu tenho uma) não me permitiram a dedicação necessária para contar a grande, a sempre novíssima maravilha que habita as terras do Recife. Trata-se de uma pessoa que não se deixa envelhecer. É impelido, todos os dias, a criar a novidade, e o faz com absoluta naturalidade. Dá gosto vê-lo cumprimentando na rua, por onde quer que vá, as pessoas que o chamam. Os jovens beijam-lhe a mão, os poetas seguem-lhe os passos. Nele está a novidade, os atentados poéticos que comete a cada minuto, a tirada oportuna, o pensamento aberto, o olhar arguto para sacar o que está acontecendo - o que ele faz antes de todos.

Ai está: já viram que falo de Jomard Muniz de Britto. E devo dizer-lhes que essa criatura, esse filósofo ambulante, que habita salas ilustres ou praças de alimentação foi o responsável por uma inesquecível estada, minha e de Lou Viana em Recife, exatamente quando acontecia lá o projeto da Prefeitura A Letra e a Voz, do qual participaram escritores como João Silvério Trevisan, Raimundo Carrero, Bráulio Tavares, Marcelino Freire, Anco Márcio, Silviano Santiago, Rodrigo Lacerda, Ferréz e outros, que falaram, responderam perguntas e autografaram na bonita livraria Cultura (embora por vezes a livraria não tivesse para venda os livros em pauta), vizinha do Espaço Alfândega e da Rua da Moeda, onde terminavam as noites, inevitavelmente. Então era a vez dos poetas.

Miró, Malungo, Vitória, as Dremelgas, Urros Masculinos estiveram presentes até o outro domingo, quando o anfiteatro da Torre Malakoff foi tomado por uma multidão para assistir a finalíssima do concurso de poesia, o Recitata. Certamente 1000 pessoas (inclusive com torcidas organizadas) estiveram lá torcendo pelos seus preferidos, que receberam os merecidos prêmios. Poesia boa, performances originais, mistura com repente e cordel, uma surpresa a cada apresentação.

Dias absolutos em Recife, programa para marcar na agenda para o ano que vem, na esperança de estar entre poetas e principalmente conviver, respirar, rir e aprender muito na companhia de Jomard Muniz de Brito - cujo entusiasmo mais novo é a participação no próximo filme de Cláudio Assis.

Eis aí. Quem não souber quem é Jomard procure conhecê-lo. Ao menos para saber o que já fez, porque o que fará é imprevisível, e talvez nisso resida a sua juventude.

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6 de setembro de 2010

A CORAGEM DO ANONIMATO


Operários - Tarsila do Amaral


Cheguei querendo contar as coisas todas interessantes e às vezes perturbadoras que aconteceram no Recife. Descansada pela esperança, talvez, de ver que a poesia está mais presente no dia-a-dia das pessoas que povoam o Brasil. Talvez esse amor pelo Brasil venha de um outro tempo em que se pregava o nacionalismo, o patriotismo, vistos hoje como repentes emocionais que só rolam em pódios esportivos.
Mas uma visita respeitável, a da Morte, veio novamente me confrontar com a solidão. É que perdi uma tia querida (e se me olho no espelho ainda a vejo). E penso nela principalmente porque lutava sempre, ao lado do rádio, defendendo idéias. De prontidão na Legalidade, resistente na Ditadura, avançando nas Diretas Já, lentamente marchando com a classe operária até chegar ao dia de hoje, o dia das eleições. Sem nunca hesitar, sem nunca esmorecer.
Em junho, quando a vi pela última vez, já diminuída pela doença, apenas dizia que queria chegar até outubro para votar em Dilma. E lembrava sempre o nome dos traidores, trazia para as conversas nomes que tinham acabado por si mesmos. Desmascarando a hipocrisia. Ela sabia, conhecia bem a história e seu avesso.
Lembro as pregações entusiásticas, como se falasse de um palanque, apresentando argumentos imbatíveis. E uma resistência de soldado. Por outro lado, era a guardiã das vidas sem consolo, dos terminais, dos permanentemente necessitados, ao mesmo tempo em que abraçava causas que considerava justas, entregava-se nas amizades eternas e na vertigem dos temperos, com os quais nos levava aos céus.
Foi-se a minha querida sem realizar seu último desejo. E eu, que há tanto tempo não acredito na democracia representativa, que não acredito em governo nenhum e tampouco em processos eleitorais, olho-me no espelho e a vejo. E se está viva votará. Em Dilma. Um voto de homenagem. E assim se faz a história. ...


31 de agosto de 2010

O QUE HÁ DE NOVO - Parte 1

Foto: Reinaldo Cardoso da Cruz

Cheguei de Recife, de onde trago boas notícias. E antes fui à Bahia, de onde também trago boas notícias. Não sei o que há em todo o Brasil, mas posso testemunhar que a literatura nunca esteve tão viva, pelo menos nos lugares por onde andei.

O que tenho a contar é que fui a Maracás, interior da Bahia, para participar do projeto "Uma prosa sobre versos", que mensalmente convida um autor de poesia. O poeta convidado envia a sua obra antecipadamente e essa obra é selecionada para ser recitada pelo grupo Concriz, dirigido por Vitor Nascimento Sá. À frente do projeto, Edmar Vieira de Almeida, diretor de cultura da Secretaria Municipal de Educação que conta também com a colaboração sobre todas as coisas do poeta José Inácio Vieira de Melo.

O evento acontece no Auditório Municipal, que dá para a praça. O autor chega e pensa que está sonhando, vendo tanta gente querendo ouvir poesia. E quando começa o espetáculo, e aquelas crianças e adolescentes começam a oferecer, como se fosse algo totalmente novo, a nossa própria poesia, isso é emoção que dificilmente se esquece, e que dificilmente é contida. Grandes poetas estiveram lá, e todos eles ficaram marcados pela maravilha que é não só o trabalho, mas o fato de que existe uma cidade onde a poesia é lida constantemente, acariciada, transformada pelas vozes e a força de cada um dos membros do conjunto. Dessa maneira a poesia passa a ser algo natural, familiar, e todos se encontram aptos a conversar depois sobre ela, a fazer perguntas, dissipar dúvidas, matar curiosidades sobre o autor. E com que carinho, com que sinceridade fomos tratadas, eu e Luiza Viana, que estava comigo. Por isso digo que vim cheia de esperança. Porque a coisa mais bonita que eu conheço é ver que a gestão pública se movimenta no objetivo de oferecer ao povo não o que a televisão impinge, não o que o modismo aponta, mas a oportunidade do conhecimento da obra dos autores brasileiros que estão aí, vivos e acessíveis, além de proporcionar a expressão da sensibilidade dos jovens em formação.

No dia 11 de setembro estará lá Astrid Cabral. Tenho certeza de que também irá se emocionar. Tenho certeza de que irá emocionar o povo de Maracás. Existe coisa melhor para o poeta?

Acima, uma foto do grupo em cena. E a idéia deu tão certo que foi criado também um outro grupo, o Renascer, da cidade de Planaltino, que trilha o mesmo caminho: intimidade com a poesia, intimidade com cada pessoa que está ligada à realização de um projeto tão bonito, bom para o Brasil, para a literatura, para a cidadania, que é o que alcançam crianças bem nutridas e bem formadas. É sonho? Não é não, gente, é grandeza.
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5 de agosto de 2010

A MACONHA OUTRA VEZ

Andei pelo Brasil, e vim cheia de esperança. Vou contar. Mas aí me deparei com esse rascunho, que estava lá esperando sem ficar velho. E para não perder o fio da fumaça, reproduzo aqui o texto de Carlos Fialho, http://blogdofialho.wordpress.com/, que se animou com a marcha que aconteceu em Natal no último dia 30 de julho.

A verdade é que a coisa anda. E as verdades estabelecidas estão sendo contestadas por brasileiros em geral. Vai chegar uma hora que dizer não à legalização terá um péssimo efeito eleitoral, ao contrário dos ainda tímidos movimentos a favor. Mas a luta continua.

A MARCHA DA MACONHA
Carlos Fialho

Os jovens que marcharam na UFRN na última sexta-feira (30.07.2010) em defesa da liberação da maconha talvez nem saibam, mas foram protagonistas de um episódio histórico para Natal. Até bem pouco tempo, um ato semelhante a este seria impensável por aqui. Nessa capital com alma interiorana, temos o velho hábito de observar a vida alheia a partir das calçadas e janelas simbólicas da vida, verdadeiros tribunais sem direito a recursos ou instâncias posteriores, de onde tecemos juízo de valor sobre tudo e todos.

Um ambiente hostil como este resulta numa sociedade preocupada em excesso com opiniões alheias, seguindo hábitos e atitudes padronizadas pela maioria, pelos ditames de modas e frivolidades coletivas. É preciso manter certas aparências para ser aceito. Quem deseja transitar incólume pela zona de conforto da aprovação consensual não pode quebrar regras estabelecidas. Dos interesses culturais ao modo de vestir, tudo precisa seguir a cartilha.

O problema é que a cartilha em vigor faz de nós verdadeiros agentes da caretice. Homens e mulheres conservadores, assustadiços e frontalmente avessos a mudanças. Ela condena opiniões originais e ovelhas desgarradas, fazendo de Natal a cidade mais preconceituosa, machista, repressora e (o horror! O horror!) careta do Brasil. Nossa elite falida e, por extensão, nossa classe média odeia negros, pobres, mulheres com personalidade, gays e maconheiros. A mesma cidade que cultua a contravenção chique do lança-perfume, condena à fogueira os que se atrevem a experimentar a erva maldita.

Tudo isso, somado à boa e velha passividade do Natalense, cria uma situação de letargia e imobilidade difícil de reverter. No entanto, a sociedade, assim como você, o design automotivo e o vírus da gripe, pode evoluir. E esta evolução, que deixaria até Darwin surpreso, chegou até nós.

Algumas vozes tímidas e eventuais ergueram-se em meio a tirania do mesmo e manifestaram publicamente seu gosto musical “alternativo”, sua opção sexual distinta ou qualquer outra forma de subversão, levando à loucura os bastiões da elite natalense.

Porém, a primeira marcha da maconha vai mais longe ao reivindicar a liberação de uma substância proibida pela Constituição Brasileira. Um evento que eu julgava impossível de acontecer na terra dos magos reacionários. O próprio fato de as autoridades policiais terem ensaiado uma repressão e depois permitido, por pressão da opinião pública, é emblemático.

Demonstra que já admitimos opiniões diferentes. A marcha da maconha recupera em boa medida minha fé numa Natal melhor no futuro, com mais gente defendendo idéias e menos janelas para a vida alheia, com mais diversidade cultural e menos trios elétricos, com mais Casas do Bem e menos individualismos. Porque pra frente é que se anda. Ou se marcha.




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4 de agosto de 2010

O MEU VOTO É PARA MULHER

Dizem que a campanha política está frouxa. O que é que vocês querem? Depois que candidato precisou registrar CNPJ tudo ficou claro. Com isso fica estabelecido o jogo de interesses a que chamamos comumente de negócios, e mais modernamente, em virtude da invasão, de business, que mesmo assim todos insistem em chamar de política. Posso dizer que fiquei estarrecida, mas pelo visto mesmo quem soube não pareceu se importar.

De qualquer forma acho que a campanha está quente. Há duas mulheres na parada, e digam o que disserem eu as acho lindas. As duas. Duas mulheres concorrem ao cargo de presidente do Brasil e isso não é fácil, meus amigos. Não é fácil enfrentar o machismo, o cinismo, as abusadas práticas masculinas "no trato" com as mulheres.

São capazes e corajosas, as nossas candidatas.

Ao contrário do que dizem, a campanha não está fria, está quente. Alguma coisa está em ebulição porque estamos no Brasil, esse maravilhoso e atrasado país e ainda assim há duas candidatas. E elas vão ganhar!

Valem ainda os costumes, e os costumes nunca favorecem a mulher. Existem as leis, mas leis são insuficientes. Existem os serviços, mas os serviços não são eficazes. As mulheres precisam de tudo o que lhes foi negado. Há muito tempo que eu acho, e até escrevi sobre a criação de um partido das mulheres, onde elas se organizassem de modo próprio, sem o modelo masculino. O partido não aconteceu, mas aí temos duas candidatas.

Lula venceu um dia e era operário. Quem diria? Um negro venceu nos Estados Unidos. Decepcionou? Não interessa. Sempre é um avanço. O próximo passo é a vitória de uma mulher. A história é assim, lenta, cansativa, só responde de geração em geração. Não é para ver. É só para avançar.


O título da postagem não é meu. Foi como respondeu o André, moço bonito que vende quiche na praia, ao ser perguntado sobre em quem ia votar. Não teve dúvida: Meu voto é para mulher. Gostei da resposta e lhe disse: Isso é que é voto de homem!

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MACONHA, PORTA DE ENTRADA?

Desculpem se insisto, mas quero compartilhar com meus persistentes leitores esse texto primoroso que por acaso se refere à maconha.
Marcos Rolim é advogado e político gaúcho. Lembro dele, dos meus tempos de Assembléia Legislativa no Rio Grande do Sul como um quadro novo do PT que se dedicou, no primeiro mandato, à questão (ou ao imbroglio) da segurança pública. Lembro das discussões que conduzia, dos interrogatórios...e dos resultados. Achava-o um pouco autoritário, mas muito inteligente e muito rápido no raciocínio. Bom orador.
Pois o tempo passou, e eis que aquele valente militante, depois representante do PT está agora às voltas com o assunto que é mais grave que o caos da segurança pública e o tráfico de traficantes. Trata-se do crack - a peste.
Não posso convencê-los? Fiquem com Marcos Rolim. Garoto inteligente. E como escreve bem!
E ó, não é propaganda não. Nem sei se ele é candidato. Nem mesmo se ainda é deputado. Me interessam as idéias.

MACONHA PORTA DE SAÍDA?
por Marcos Rolim*


A epidemia de crack é um dos fenômenos mais sérios na interface entre saúde pública e segurança. O que a faz particularmente grave é a reconhecida dificuldade de superar a dependência química. Pois bem, a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) realizou pesquisa com 50 dependentes químicos de crack que foram submetidos a um tratamento experimental de redução de danos. Sob a coordenação do psiquiatra Dartiu Xavier, o grupo foi tratado com maconha. Daquele total, 68% trocou o crack pela maconha. Ao final de três anos, todos os que fizeram a troca não usavam mais qualquer droga (nem o crack, nem a maconha). Anotem aí: todos.
Imaginei que, com a divulgação destes resultados por Gilberto Dimenstein, na Folha de S. Paulo em 24 de maio, haveria grande interesse sobre o estudo. Nada. A resposta ao mais impressionante resultado de superação da dependência de crack no Brasil foi o silêncio. O uso medicinal da maconha tem sido admitido em dezenas de países, inclusive nos EUA. Por aqui, o tema segue interditado pela irracionalidade. É evidente que o consumo de maconha pode produzir efeitos danosos. Sabe-se que o abuso pode conduzir o usuário a problemas de concentração e memória e que em determinadas pessoas o uso está correlacionado à precipitação de surtos esquizofrênicos. Daí a criminalizar seu consumo e impedir experiências destinadas ao uso medicinal vai uma distância que tende a ser percorrida pela intolerância e pelo obscurantismo.
O psicofarmacologista Eduardo Carlini sustenta que o princípio ativo da maconha pode ser útil no combate à depressão e ao estresse. O mesmo tem sido dito por cientistas quanto ao tratamento do glaucoma, da rigidez muscular causado pela esclerose múltipla, ou como apoio aos pacientes com Aids, aos que sofrem do mal de Parkinson e aos que se submetem à quimioterapia em casos de câncer. Estudo da USP com pacientes que ingeriram cápsulas de canabidiol, um dos compostos encontrados na erva, demonstrou resultados positivos no tratamento da fobia social e na redução da ansiedade.
As oportunidades abertas por estudos do tipo, entretanto, assim como a necessária pesquisa, estão impugnadas no Brasil por um discurso preconceituoso e por uma legislação ineficiente e estúpida. Seguimos repetindo que a maconha é “a porta de entrada” para o consumo de drogas mais pesadas, o que pode traduzir tão-somente uma “falácia ecológica” (quando se deduz erroneamente a partir de características agregadas de um grupo), vez que o universo de consumidores de maconha é muitas vezes superior ao grupo dos dependentes de drogas pesadas que se iniciaram pela cannabis. Em outras palavras: é possível que a maconha seja mais amplamente uma opção alternativa às drogas pesadas e não uma droga de passagem. Independentemente disto, é possível que a maconha seja uma porta de saída para a dependência química por drogas pesadas. O que, se confirmado, será uma ótima notícia.

marcos@rolim.com.br

*Jornalista

Texto publicano no Jornal Zero Hora de Porto Alegre, RS
Para acessar o artigo em sua página original clique aqui.

28 de julho de 2010

CAÇADA AOS LOBOS

Saí quase atrasada, precisava de um livro, pensei em Saramago. Que livro? Me veio à cabeça As Pequenas Memórias, mas o que veio da prateleira foi O ano de 1993, publicado pela Companhia das letras em 2007. Há anos era assim, o Saramago de fim de ano. Esse sim, o mago das letras e das vendas, sem acadêmicos saberes, dono de um conhecimento mais rico, aliado a uma grande capacidade de observação do universo. Muitos o invejavam, e talvez o invejem ainda, agora que desapareceu do mundo dos cegos.
Lembro que li o livro com um certo escárnio divertido. Saramago devia estar ocupado, namorando, quem sabe, e pôde escrever pouco naquele ano. Vai assim mesmo, diz a Companhia das Letras. A Cia Suzano agradece, o Greenpace comparece. E então saiu o ano de 1993. Lembro que era tanto papel para tão pouco texto que até eu aproveitei para escrever um pouco em polen bold. Mas tudo bem. O fato é que ali há coisas como:


A cidade que os homens deixaram de habitar está agora sitiada por eles

Não deve passar em claro o exagero que há na palavra sitiada

Como exagero haveria na palavra cercada ou outra qualquer sinónima perfeita

Os homens estão apenas em redor da cidade tão incapazes de entrarem nela como de se afastaram para longe definitivamente.

São como borboletas da noite atraídas não pelas luzes da cidade que já se apagaram há muito

Mas pelo perfil desarticulado dos telhados e das empenas e também pela rede impalpável das antenas da televisão.


De dia uma enorme ausência guarda as portas da cidade

E a ruas têm aquele excesso de silêncio que há no que foi habitado e agora não.

Na cidade apenas vivem os lobos

Deste modo se tendo invertido a ordem natural das coisas estão os homens fora e os lobos dentro
Nada acontece antes da noite

Então saem os lobos a caçar os homens e sempre apanham algum

O qual entra enfim na cidade deixando por onde passa um regueiro de sangue


Ali onde em tempos mais felizes combinara com parentes e amigos almoços intrigas calúnias

E caçada aos lobos




Aí está. Saramago como sempre. Mesmo quando escrevia pouco era muito. Quando cheguei em casa fui às Pequenas memórias. E achei o que havia esquecido, na minha memória pequena: a dedicatória, coisa que Saramago também faz muito bem.


A Pilar, que ainda não havia nascido
e tanto tardou a chegar


Para que vocês vejam que a qualquer momento estão a acontecer coisas importantes.

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22 de julho de 2010

FAÇA A COISA NOVA


Caros amigos.
Estive ausente do blog, e ainda bem que houve quem reclamasse. Que sintam falta do que escrevo, e não de mim. É melhor assim. Porque as palavras podemos usar à exausão, repeti-las, recriá-las. Já o corpo é esse somente, e único, ao que se saiba. Um dia será o corpo do sossego, mas por enquanto é só inquietação.
O blog faz um ano no dia 24 de julho. É bom não deixar para amanhã. A primeira postagem foi em relação à FLIP. No ano passado foram quadrinistas, este ano são rokeiros. Aprecio os dois gêneros, mas pensei que a feira era de literatura, e vocês? De qualquer modo, a coisa segue a tendência: misturar para não aprofundar. Simples assim.

Ensaiei alguma coisa sobre o fim do Jornal do Brasil mas não consegui. Ainda dói. E o vulto de Barbosa Lima Sobrinho surge enorme, enquanto os tannures retomam o caminho da mediocridade onde sempre estiveram.
Sobre o quê, então - noticiário geral? Vamos combinar: está triste. As maldades superlotaram o baú do mundo e resolveram saltar para todo o lado. Ninguém mais controla. A televisão não se cansa de cansar. Não serei eu a dar força ao desvario.
Volto, portanto, ao que há de novo, e mesmo assim já faz história: a causa da legalização das drogas.

No espaço de um ano muita coisa aconteceu, e espero que até as eleições aconteçam ainda mais. Afinal, você já sabe que por mais que confie no seu candidato, ele não poderá fazer nada do que almeja sinceramente por causa das malditas alianças. Vote, portanto, no que lhe parece impossível. É daí que podem se abrir as possibilidades. O que está não serve mais. Façamos o novo, o malvisto, o não recomendado. Façamos simplesmente outra coisa. Enterremos as políticas covardes, e da terra busquemos só as melhores sementes.


Não deixe de ler a entrevista com a ex-defensora pública e juíza aposentada no Rio de Janeiro, Maria Lúcia Karam. A entrevista foi publicada no blog Desentorpecendo a Razão

coletivodar.wordpress.com/2010/06/29/entrevista-especial-de-aniversario-maria-lucia-karam/

Quem quiser participar da Exposição de fotografias que inaugura no sábado, 24, MARCHAS DA MACONHA NO BRASIL, seguida de recital do poeta Victor Colonna será super bem-vindo e estará fortalecendo um movimento que não tem volta.
Quem quiser conhecer a poesia de Victor Colonna antes de ouvi-lo ao vivo acesse